MANAUS-AM|Reinvenção é a palavra de ordem no Abrigo do Coroado, coordenado pela Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas) com serviços voltados para refugiados venezuelanos, no contexto de pandemia pela Covid-19. Para que a convivência, forçada pela necessidade do isolamento social, não se torne monótona, os acolhidos estão criando soluções para aproveitar o tempo livre. A produção de máscaras caseiras de tecido para proteção contra o novo coronavírus é o exemplo mais recente de que a criatividade é uma boa aliada nos momentos de crise.
A manicure Yngrid Hernandez, que está em Manaus há seis meses, teve a ideia de produzir máscaras de tecido depois que a diretora da unidade, Darcy Ramos Amorim, demonstrou preocupação com a doença. Como foi forçada a parar de atender nos salões de beleza onde trabalhava, por conta da pandemia, Yngrid teve a ideia de começar uma pequena produção de máscaras. A falta de uma máquina de costura, tecido, elástico e linhas foi contornada com o empréstimo do equipamento e de matérias-primas para a confecção do acessório, e a produção foi iniciada.
A iniciativa logo chamou a atenção de duas colegas abrigadas, Nairelis González e Daniela González, e o trio começou a produzir máscaras para todos os acolhidos do abrigo, que hoje atende cerca de 120 pessoas. Até mesmo os “niños” (crianças) ganharam máscaras para se proteger da Covid-19.
Para Darcy Ramos Amorim, a iniciativa é uma demonstração da possibilidade que cada pessoa tem de reinventar, sobretudo nos momentos mais difíceis da vida. “As crises nos empurram para a busca de soluções. E aqui, para que a vida não se torne tediosa e improdutiva, a gente vai buscando e incentivando os talentos. Havia essa necessidade de máscaras, nós estimulamos os jovens e adultos a colaborarem e foi ótimo. Apesar da pandemia, o clima aqui é muito bom”, acentuou.
Espírito coletivo – No pequeno espaço que tem uso multifuncional, onde funcionam a brinquedoteca, sala de aula e outras atividades, sete mulheres hoje se revezam na produção. Enquanto uma corta os moldes, outra costura e outra coloca o elástico. A estimativa é de que 200 máscaras já tenham sido produzidas. Um resultado tão bom que parte da produção foi levada aos ribeirinhos em entregas de cestas básicas pela Seas.
“Eu estou muito feliz com esse resultado. Todos aqui do abrigo têm pelo menos duas máscaras, até as crianças bem pequenas. Já fizemos 200 máscaras, estamos melhorando a nossa produção e somos muito gratas à dona Darcy, que nos emprestou sua máquina de costura para trabalharmos”, comemora Yingrid Hernandez.
Solidariedade – A abrigada Nairelis González fala que, além da proteção, a produção de máscaras representa uma forma de ajudar a todos e também mais uma habilidade aprendida. Também há seis meses em Manaus, ela conta que era dona de casa da Venezuela, dedicando-se exclusivamente à criação dos filhos e aos cuidados domésticos. Como a situação em seus país de nascimento foi ficando cada vez mais dramática, foi forçada a deixá-lo, mas não se queixa.
“Aqui no Brasil eu aprendi muitas coisas boas: hoje já sei fazer bolo, pão, pizza e agora, máscaras. Quando eu voltar para a Venezuela, vou levar muitos conhecimentos”, explicou.
Oportunidade – Filha de mãe costureira, a recreadora infantil Daniela González aprendeu alguns princípios da arte de costurar observando a mãe. A confecção de máscaras de tecido se apresentou como uma oportunidade de colocar esse conhecimento em prática e também de ocupar o tempo livre. A pandemia assusta, ela admite, mas não se considera uma pessoa triste no Abrigo.
“Aqui nós temos muitas atividades, como a bailoterapia (misto de dança e exercício físico), atividades com as crianças, a produção das máscaras, e tudo isso aumenta o companheirismo. Podemos dizer que estamos motivados, integrados e sempre querendo ajudar para melhorar esse espaço, seja limpando, consertando, brincando. Aqui nós temos muita união e esperança”, concluiu.
Acolhimento – O Abrigo do Coroado, localizado na alameda Cosme Ferreira, Coroado, zona leste de Manaus, é coordenado pelo Governo do Amazonas, por meio da Seas, desde julho do ano passado. Além da oferta de alimentação e acolhimento, todo um serviço de atendimento psicossocial é realizado naquela unidade com encaminhamentos a rede socioassistencial, de saúde e educação.
FOTOS: Miguel Almeida/Seas