Manaus – O advogado José Júlio César Corrêa, ex-secretário executivo da Superintendência de Habitação do Amazonas (Suhab) tentou colocar em segredo de Justiça o processo em que ele afirma que a Ezo Soluções Interativas Ltda. é uma empresa supostamente “fantasma”. A Ezo foi contratada sem licitação na gestão do governo interino de David Almeida (PSB) para recuperar valores do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) da Suhab. No entanto o advogado solicita o pagamento referente a R$ 5 bilhões do governo do Amazonas, mesmo sem que nenhum valor dos R$ 27 bilhões que diz ter recuperado tenha sido pago ao cofres públicos.
O advogado é ligado ao grupo político de David Almeida e teria direito a R$ 200 milhões em honorários por ter atuado para a empresa conseguir o contrato bilionário referente ao valores recuperados do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) da Suhab.
Suposta empresa fantasma
José Corrêa acionou a Ezo por dano moral. Na ação, ele diz que o governo interino de David Almeida (PSB) fez um contrato bilionário com uma empresa “fantasma”. Diz que procurou a empresa e que “ao chegar no endereço indicado como sede, encontrou a porta fechada e que no condomínio lhe fora informado que nunca operou naquele local qualquer empresa com essa denominação”. Diz, também, que apurou que no endereço em que deveria estar o escritório da Ezo, estava o escritório do irmão do representante da empresa e que “ninguém conhece Paulo Henrique Júlio Ciccarini, nem reconheceu por fotografia que lhes fora apresentada”.
Recusa de segredo de Justiça
O juiz Fábio Cesar Olintho de Souza, da 12º Vara do Juizado Especial Cível – Capital – Fórum Des. Mário Verçosa, indeferiu o pedido de segredo de Justiça. “Trata-se de ação por danos materiais pelo não-pagamento de serviços que teriam sido efetivamente prestados. Assim, por mais que a lide verse sobre questão nitidamente patrimonial e pessoal, não há concretização dos incisos do dispositivo mencionado. Logo, o processo, essencialmente público que é, assim há de permanecer. Se o autor entende que houve abuso no direito de informar por pessoa que sequer integra a lide, seja qual for o interesse do divulgador, deve procurar, em autos próprios, o processamento da causa e, após o devido processo legal, receber o competente julgamento. Dessa forma, indefiro o pedido de fls. 30/33. Paute-se audiência de conciliação, intimando-se e citando-se as partes”, diz o despacho.
Advogado de aliados
O advogado José Júlio César Corrêa tem relações estreitas com o PSB, partido de David Almeida, e atua em processos do deputado estadual Platiny Soares, também do PSB e que integra o staff de aliados do presidente da Assembleia Legislativa do Estado (ALE) e candidato ao governo do Amazonas. Na Suhab, José Júlio atuou por um mês. Ao sair, atuou para a Ezo conseguir o contrato bilionário com na gestão do ex-governador interino. A procuração que dá ele o direito a R$ 200 milhões pela negociação que envolve a Suhab foi registrada no Livro 0394-P, Folha 005, Protocolo 122511, no Segundo Serviço Notarial de Betim (MG), e é datada de 6 de janeiro de 2018.
Investigação do Ministério Público
Ex-diretores da Suhab estão sendo investigados pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) por improbidade administrativa num esquema que envolve R$ 5 bilhões. Os servidores envolvidos são: José Júlio César Correa, César Augusto Marques da Silva, Leandro Carlos Spener Xavier e Nilson Soares Cardoso Júnior, acusados de contratar de forma irregular Ezo Solução Interativas Ltda. Segundo o MP-AM a empresa foi contratada no período do governo interino do deputado David Almeida (PSB), sem licitação, como consta no extrato nº 086/2017 publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) no dia 04 de outubro de 2017. No inquérito consta que o objeto da contratação da empresa era a prestação de serviços de recuperação de valores junto à carteira do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), da SUHAB, mediante uma taxa de 20%.
Dois meses após o contrato firmado entre às partes, a Ezo Soluções pediu o pagamento de R$ 5 bilhões do Estado, sob a alegação que havia recuperado R$ 27,5 bilhões. A empresa não tem atividades financeiras em seu contrato social. O contrato foi assinado pelo então superintendente da Suhab , Nilson Cardoso, nomeado pelo ex-governador interino David Almeida.