Manaus – No momento em que o governador do Estado, José Melo, faz cortes em todos os setores do Estado, principalmente na Saúde, para, segundo ele, tentar economizar R$ 500 milhões por ano, a Agência de Fomento do Amazonas (Afeam) aplicou R$ 20 milhões em cotas de um autodenominado Fundo de Investimentos em Participações Expert (FIP Expert), que, no final das contas, é um investimento na empresa de transporte de valores Trans Expert, do Rio de Janeiro.
A alegação para tal investimento, de acordo com o diretor-presidente da Afeam, Evandor Geber Filho: “São fundos que a gente aplica pra tentar maximizar a receita, dar rentabilidade, para a gente poder pagar as despesas operacionais”, disse Geber. Segundo ele, é um investimento numa empresa de transporte de valores, a Trans Expert, que estaria se instalando em Manaus.
Os R$ 20 milhões investidos pela Afeam na Trans Expert significam mais de 25% da previsão do volume total de empréstimos do programa estadual de microcrédito, denominado Banco do Povo, que facilita o acesso de microempreendedores individuais, profissionais liberais, trabalhadores autônomos, produtores rurais e micro e pequenas empresas a créditos que totalizam R$ 68 milhões, no ano passado e que, segundo a Afeam, gerou 60 mil empregos. Ou seja, é dinheiro que poderia ser emprestado para gerar emprego e renda no Amazonas.
Os R$ 20 milhões da Afeam foram investidos na Trans Expert em duas parcelas, sendo a primeira em outubro de 2014 e, a outra, em março de 2015, as duas com valores de R$ 10 milhões, informou Geber Filho. O investimento na empresa de segurança do Rio de Janeiro representa 9% do caixa atual da Afeam, de R$ 244 milhões. Em seu site, na internet, a Trans Expert informa que é “uma empresa com forte atuação no mercado do Rio de Janeiro e Minas Gerais que oferece serviços de transporte de valores bancários e de varejo, além de transporte de documentos”. E com “a frota mais nova em operação, sua grande capilaridade é otimizada por meio de equipes com alto nível de qualificação, que atuam nas diversas unidades de negócios espalhadas em sua área de cobertura”, no Rio de Janeiro. De acordo com a Afeam, o Fundo da empresa tem R$ 80 milhões e a agência tem participação de 25% do total.
A Resolução Nº 2.828 de 30 de março de 2001, do Banco Central (BC), permite que as agências de fomento invistam até 25% de seus caixas em participação acionária, fundos de investimento, fundos com títulos públicos federais e fundo de carteira administrada. A rentabilidade do FIP Expert é contabilizada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais 8% ao ano. Até o final de abril, o fundo inteiro rendeu R$ 4,43 milhões. Considerando o IPCA atual, o fundo rende 18,02% ao ano, sem descontar a inflação. O rendimento real foi de 6%. Apenas em julho de 2017, está previsto que sejam pagos à Afeam os valores dos juros da aplicação. O resgate acontece num prazo de dez anos.
De acordo com Geber, a Afeam foi procurada pelos representantes do fundo para fazer uma aplicação. “Recebemos visitas do agente financeiro, conhecemos o gestor do fundo e o administrador, tudo com critério técnico do nosso comitê de crédito”, diz.
Além da aplicação no FIP Expert, a Afeam subscreveu cotas em outro fundo de Investimentos em Participações, o FIP Criatec 3. O investimento total é de R$ 5 milhões, do qual já foram pagos pela Afeam, em 2016, R$ 150 mil.
O gestor do FIP Expert é a Interativa Investimentos. Já o banco administrador é o BNY Mellon. O agente fiduciário, que é um banco que se responsabiliza, se houver alguma má-fé do investidor que está captando os recursos, é a empresa Planner.
Enquanto isso, tíquete refeição é cortado
Desde o dia 2 de maio, o governador do Amazonas, José Melo (PROS), reduziu de oito para seis horas a jornada de trabalho de aproximadamente 30 mil servidores da administração pública e mandou cortar o tíquete alimentação de mais de 90% dos funcionários, alegando que pretende economizar cerca de R$ 60 milhões até o final deste ano. Em março, o governador anunciou que o Estado deveria reduzir entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões, em 2016, na Saúde, para, segundo ele, evitar o fechamento de hospitais.
Com o mesmo argumento, de economizar recursos, o governo informou, em maio deste ano, que iria fazer um reordenamento no sistema de saúde, para economizar R$ 316 milhões, com o fechamento de Centros de Atenção Integral ao Idoso (Caimis) e Centros de Atenção Integral à Criança (Caics). Este ano, o governo do Estado também informou que não poderia reajustar nenhum centavo nos salários dos servidores públicos, alegando economia de recursos.