A semana começa com uma notícia bombástica: a Alemanha decidiu doar R$ 1 bilhão para o Brasil, incluindo nesse valor 35 milhões de Euros para o Fundo Amazônia. Enquanto o dinheiro jorra dos cofres europeus e se derrama na floresta, a população e a economia do Amazonas tem uma triste realidade a enfrentar em mais um inverno: a lama e o abandono da BR-319.
Dinheiro e promessas de sobra
Mais de três anos após bloquear as contribuições ao Fundo Amazônia, a Alemanha retomará os investimentos. O anúncio, de acordo com o Ministério de Relações Exteriores do Brasil, ocorre nesta segunda-feira (30). O montante previsto para liberação é de € 31 milhões, o que equivale a aproximadamente R$ 170 milhões.
O contraste com tanto dinheiro é a realidade que vive o nativo da Amazônia. Em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro anunciou que havia ordenado a recuperação da BR que liga Manaus até Boa Vista, muita gente comemorou e acreditou, mas nada saiu do papel.
“A licitação do projeto, fizemos agora em dezembro. Enquanto fazemos o projeto, estamos trabalhando na licença ambiental. O presidente do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], que é muito bom, selecionou uma equipe a dedo e está determinado a dar a licença. Com a licença, contrato a obra do trecho todo”, disse o presidente.
O novo Fundo Amazônia, com Marina Silva no comando do ministério do Meio Ambiente, não tem verba prevista para arrumar a estrada. Sob o pretexto de preservar a natureza, quem mora no meio da riqueza ambiental vai continuar isolado do Brasil, ainda que os milhões sobrevoem o imaginário de quem lê os noticiários.
O assunto, inclusive, causou irritação na ministra, quando era candidata a presidente da República. Em Manaus, em 2018, ela deixou claro que o tema não está no seu radar. “A pré-candidata da Rede criticou políticos que usam a situação da BR-319 como discurso populista. Para ela, é necessário levar em consideração os conhecimentos técnicos para decidir o futuro da rodovia.
“Acho que um governante não pode dizer as coisas sem levar em consideração os conhecimentos técnicos porque isso, às vezes, é populismo, é querer ganhar o voto de coisas que depois não se entrega. Tem muita gente que gosta de ganhar voto às custas da BR. É por isso que eles (polítocos) continuam fazendo o mesmo discurso”, disse a então pré-candidata. “Um projeto para ser viável, tem que ser viável do ponto vista econômico, social e ambiental”, disse Marina.
Alemães chegam com verba
Após confirmar o retorno da sua contribuição ao Fundo Amazônia, com a liberação de € 35 milhões, a Alemanha deve doar mais de R$ 1 bilhão ao Brasil ainda nos cem primeiros dias do governo Lula. A intenção foi apresentada por Svenja Schulze, ministra alemã da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, segundo informações da Folha de S.Paulo.
“Queremos um programa imediato para os cem primeiros dias de governo, em acordo com o governo o que pode ser feito e, para isso, [teremos] mais € 200 milhões”, disse Schulze. O montante apontado pela alemã chega a ultrapassar a casa dos R$ 1,1 bilhão, pela cotação atual da moeda europeia.
Nem peixe conseguimos produzir
Para muito além do dinheiro, o que o Brasil não tem para a Amazônia é um plano econômico que inclua, além dos incentivos da Zona Franca de Manaus, injeção financeira e de mão-de-obra em outras frentes.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou dados que revelam a China como maior fonte do peixe “red pacu” típico da região amazônica e da bacia dos rios Araguaia-Tocantins. Em 2020, foram produzidas 59,4 mil toneladas de pirapitinga no país asiático. As informações são da BBC News.
Depois da China, aparece Colômbia com (33 mil toneladas), Vietnã (23 mil), Peru (2,1 mil) e só então o Brasil (1,8 mil). O pacu é muito apreciado pela população da região amazônica, mas não somos capazes de produzir nem o nosso peixe, que sai daqui e vai ser reproduzido aos milhares do exterior.
A China e outras nações asiáticas viraram referência na criação de peixes ornamentais amazônicos. Mas como? Antes da Rio-92, a histórica conferência do clima que aconteceu no Rio de Janeiro, o primeiro ministro chinês Li Penq teria viajado para Manaus, onde se encontrou com o governador do Amazonas, na época Gilberto Mestrinho.
Durante o encontro, o primeiro ministro recebeu de presente casais vivos de tambaquis que foram posteriormente levados para o país asiático. Foi neste momento que o interesse dos asiáticos pela espécie de peixe amazônica começou.
No entanto, especialistas em piscicultura acreditam que é muito mais provável que essa introdução de espécie na China e em outros países tenha acontecido aos poucos e por meio de várias fontes diferentes.