Manaus – O tema violência está na boca da população. Não há quem não reclame da insegurança e, por consequência, da falta de proatividade de um dos mais famosos (e também polêmicos) programas, o Ronda do Bairro. Completando cinco anos de implantação , os questionamentos seguem: qual o futuro do Ronda e como ele pode ajudar na paz social?
Segundo o chefe da corporação, o efetivo atual da instituição é insuficiente para manter a filosofia do programa, que exige muitos policiais na rua, em contato direto com a população
O desafio é tamanho. Prova disso são as crescentes estatísticas. Segundo a Secretaria de Segurança Pública , os casos de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) aumentaram, por exemplo, em 43% entre os anos de 2011 e 2015, passando de 2.667 para 3.571 assassinatos. Movimento bem semelhante são os gastos com segurança pública. Em 2011, a verba ficou em R$ 964 milhões (4,88% do orçamento) e, em 2016, passou para R$1,4 bilhão, 7,51% do total.
Desde o início, o programa foi alvo de críticas: ora pelo alto valor dos veículos “Hilux”, ora pelo fardamento de luxo, em 2013, uma foto de jovens mulheres posando nas viaturas viralizou nas redes sociais e culminou na expulsão dos dois soldados responsáveis pelo carro. Posteriormente, os militares foram reintegrados à Polícia Militar.
Durante o primeiro ano, o programa correu às mil maravilhas: os carros circulavam por toda a Capital satisfazendo a população. Já a partir de 2015, acidentes começaram a ganhar destaque e gerar questionamentos. Ações desastrosas e crises se aprofundaram. Denúncias corriam mundo à fora.
Hoje, com o descontrole da violência, até o próprio comandante geral da Polícia Militar do Amazonas(PM-AM), Coronel Augusto Sérgio Farias Pereira, assume as fragilidades e ressalta que ainda há muito o que enfrentar.
Além de questões políticas, a rotina de violência crescente – na Capital e no Interior – também interferiu, avalia. O tráfico, por exemplo, acabou forçando grave mudança de perfil. Segundo ele, a população temerosa começou a fazer cobranças e a não querer mais uma “polícia tão amiguinha”, queria uma forma mais agressiva. “Isso forçou a barra. Ao invés de levar a uma melhor política, levou a uma pior”, critica.A criminalidade está cada vez mais complexa e tem exigido formação mais ampla. “Não podemos mais ter Ronda despreparado para lidar com problemas sociais”, finaliza.
Objetivos iniciais do Ronda foram alcançados?
Carlos Mota Coordenadora Mestrado Políticas Públicas da USP.
Como o senhor avalia a ação? O Programa Ronda do Bairro, implantado em 2011, na gestão do governador Omar Aziz, como novo modelo de policiamento ou “a polícia da boa vizinhança” por se propor a fazer uso de estratégias do policiamento comunitário, em que o exemplo são as atividades policiais de proximidade com a comunidade; tinha como principal finalidade conter a criminalidade e a violência e, ainda, melhorar imagem da polícia militar.
Aqui, vale lembrar que essas atividades se operam mais pela prevenção do que repressão na proximidade com a comunidade. E, no caso do Ronda do Bairro, este objetivo não foi alcançado. Podemos dizer que um dos motivos foi o fato deste não ter conseguido executar de modo sistemático o básico do policiamento de proximidade com a comunidade para viabilizar a relação de cooperação entre esta e a população.
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