RIO DE JANEIRO | Uma idosa de 84 anos está há mais de um ano tentando provar ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que está viva. Juracy Abreu de Salles, moradora do Rio de Janeiro (RJ), teve suas informações confundidas com a do marido, que faleceu em 1998. A mulher entrou em depressão após receber a notícia de que constava como falecida no instituto.
Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, a idosa apareceu segurando um cartaz escrito: “Por favor!!!! Eu não estou morta!!! Eu estou viva INSS!!! Eu só quero receber, devolve meu pagamento”.
No mês de fevereiro de 2021, a idosa foi fazer saque do benefício, que recebia há 19 anos, e o dinheiro não estava no banco. Ao entrar em contato com a central de atendimento telefônico do INSS, em março, a instituição informou à ela que o pagamento estava suspenso por falta de recadastramento.
‘Por que cortaram meu pagamento?’
“Em março do ano passado estive no Cras (Centro de Referência e Assistência Social), além disso fiz a prova de vida no banco em janeiro. Por que cortaram meu pagamento?”, questionou a idosa. Ela recebeu orientação para apresentar seus documentos em um posto do INSS, a fim de passar por uma análise.
Ainda em março, Juracy Abreu foi até a APS (Agência da Previdência Social) de Campo Grande, bairro do Rio de Janeiro. A unidade estava fechada por conta da pandemia de Covid-19, então, a senhora colocou a documentação na caixa de exigências, conforme orientou a central de atendimento do INSS.
A entrega de envelope está registrada na plataforma Meu INSS. Entretanto, na continuidade do processo de recadastramento, parte da documentação da mulher foi parar em outra unidade, também no bairro Campo Grande.
Família descobre que idosa constava como falecida
Já em julho do ano passado, a senhora recebeu o retorno do INSS de que não seria possível que ela continuasse recebendo o benefício. Em novembro, a família tomou conhecimento de que o BPC/Loas de Juracy tinha sido negado porque ela constava como falecida no INSS.
Juracy teve a vida impactada com a notícia, pois entrou em depressão e chegou a ter um AVC (Acidente Vascular Cerebral) dias atrás. A nora da idosa, Ana Lúcia Santana, contou: “Ela passa os dias sentada olhando para nada, triste, sem vontade de viver. Nós temos ajudado com as contas da casa, com a alimentação, remédios, mas ela não se anima”.
A família entrou em contato com o INSS para localizar a suposta certidão de óbito. O instituto cedeu a documentação da senhora, que constavam as informações do falecido marido dela. A confusão pode ter acontecido no momento de apresentar os documentos da mulher, em que ela colocou o atestado de óbito do marido para comprovar que vivia sozinha.
Juracy fez prova de vida
Para reverter a situação, Juracy Abreu fez uma prova de vida em uma APS do Rio de Janeiro. Porém, ainda há um problema: o cadastro da idosa no INSS está espalhado em três unidades: Engenheiro Trindade, Olinda Elis e Nilópolis.
Um servidor, que pediu para não ser identificado, relatou que a sobrecarga de trabalho pode ter sido a causa do desmembramento dos documentos da senhora, que estavam em um envelope entregue na APS Engenheiro Trindade.
“Não justifica, óbvio. Mas com essa divisão por tarefas (onde cada uma tem uma pontuação) acaba dificultando ainda mais o nosso trabalho. Antigamente, o segurado chegava no posto com a documentação e na hora avaliávamos tudo e, se fosse o caso, já saía com a certeza da aposentadoria ou com a relação de documentos que precisariam ser apresentados”, disse o servidor.
Ele continuou: “No seu retorno, nós já sabíamos do que se tratava e dávamos continuidade. Agora é pelo Meu INSS, onde cada parte do processo cai na mão de uma pessoa diferente e de regiões diferentes, onde não se sabe a particularidade de cada local. Quem sai perdendo é a população que precisa do serviço do INSS”.
O que diz o INSS
O INSS informou ao Extra que o erro no cadastro de Juracy Abreu será corrigido, e que o processo dela ficará concentrado na unidade de manutenção de benefícios de Nilópolis, no Rio de Janeiro. Segundo o órgão, o BPC/Loas da idosa será restabelecido e ela terá direito às parcelas atrasadas.
O instituto não soube informar o motivo da documentação do envelope inicial ter sido desmembrada e ir para em outra unidade. Além disso, também não souberam explicar o por que de os dados do marido falecido terem sido confundidos com os de Juracy.
Procurado pelo BHAZ, o INSS ainda não deu detalhes sobre o caso. Tão logo a instituição se manifeste, esta reportagem será atualizada.