Rio – Hoje com 66 anos, a trajetória de Claudia Alencar como filha, mulher e artista esconde uma série de dores vividas. Em conversa com o UOL, ela revelou parte de sua trajetória, que inclui agressões do pai e abusos no período da ditadura no Brasil.
Ainda pequena, ela apanhava do pai, em seguida, quando ainda era estudante na Escola de Comunicação e Artes da USP e integrante da Aliança Libertadora Nacional, a jovem aspirante a atriz sofreu o que considera um dos piores pesadelos para uma mulher: o estupro.
“Eu fazia teatro de protesto na rua, nas universidades e alguns espaços públicos (…) Fui muito violentada nos Anos de Chumbo, na Ditadura Militar. Depois disso, achava que nenhum assédio poderia mais me abalar, poderia me derrubar. Me enganei. Foram dez anos dizendo ‘não’ a diretores e produtores porque eu queria um papel bom sem barganhar uma noite de sexo”, conta a atriz.
Pouco depois, Claudia conseguiu um papel em ‘Roda de Fogo’, apoiada pelo seu professor universitário, autor da trama, Lauro César Muniz, a quem é grata.
“Fui chamada várias vezes para fazer testes e eles até começavam mesmo com as leituras de texto, mas terminavam com uma proposta de um jantar ou de um encontro em um lugar mais reservado. Cada vez que isso acontecia, eu saia arrasada, frustrada e me sentindo violentada porque eu tinha certeza que era boa atriz com condições para entrar e ficar entre as estrelas da casa”, desabafou.
Interpretando papeis sensuais, Claudia conta que o assédio aumentou. “Era diretor, ator, produtor, apresentador e empresário que vinham com aquele joguinho de sedução. Tive um colega de cena que me perturbou meses e, quando um dia eu cansei do cerco e dei um fora definitivo, ele passou a me perseguir, me humilhar na frente dos outros colegas. Ninguém me defendeu. Daí eu percebi que se eu quisesse continuar trabalhando, teria que fingir que nada acontecia e foi o que eu fiz durante uns 25 anos.”, declarou a atriz.
Após saber de denúncias de assédio no meio artístico, ela diz não se surpreender. “Sei de muitas profissionais que passaram o pão que o diabo amassou. Acho corajoso essas meninas falarem, darem os nomes, apontarem os dedos. É heroico, é encorajador e um alerta também para os homens: atitudes machistas estão com os dias contados. Não fiz lá atrás por medo, mas apoio incondicionalmente quem faz isso agora”, finalizou Claudia. Por Noticias ao Minuto.