BRASIL – Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro candidato a ser entrevistado pelo Jornal Nacional, na noite desta segunda-feira (22). Durante 40 minutos de sabatina, as falas do presidente geraram polêmica e repercutiram nas redes sociais. Foram cerca de oito declarações “fake”, incluindo o episódio sobre a falta de oxigênio em Manaus.
Questionado sobre Renata Vasconcellos sobre o colapso na capital amazonense, em janeiro de 2021, o candidato à reeleição disse que o ocorrido em Manaus foi “atípico”, mas que o oxigênio chegou em 48h. A crise em Manaus deixou cerca de 30 pessoas mortas entre os dias 14 e 15 de janeiro, mas no dia 8, o Ministério da Saúde já tinha a informação da dificuldade de produção do insumo.
A equipe do Fato ou Fake, do G1, checou que a declaração foi falsa e os amazonenses logo reagiram. À época, artistas como Whindersson Nunes, Tirulipa, Paulo Gustavo, Gusttavo Lima, entre outros fizeram campanha para mandar cilindros aos hospitais do Amazonas, cuja a demanda estava altíssima. O governo da Venezuela também doou oxigênio a Manaus.
Os mais de 100 mil metros cúbicos do governo federal chegaram somente quatro dias depois de a crise eclodir. A principal fornecedora, a empresa White Martins, comunicou ao Ministério da Saúde a dificuldade de produção do insumo em 8 de janeiro de 2021. Somente na madrugada do dia 15, aviões carregados com cilindros de oxigênio chegaram ao estado. Mas eles não foram encaminhados pelo governo federal e, sim, por São Paulo e por uma empresa fornecedora.
“Fizemos a nossa parte em Manaus”, finalizou o candidato, gerando revolta nas redes sociais. Segundo ele, “não é competência” e “nem atribuição” do governo federal levar oxigênio para o Amazonas, e que não houve omissão diante da crise.
Declarações falsas
Mas não foi só sobre Manaus que Bolsonaro não contou com a verdade. Logo no início da entrevista, questionado por William Bonner, Bolsonaro negou ter xingado ministros. Ele, inclusive, disse que era uma fake news por parte de Bonner. “Você não está falando a verdade quando diz ‘xingar ministro’. Isso é um fake news da sua parte”, retrucou ele.
Em julho de 2021, o presidente chamou o ministro Luis Roberto Barros de “idiota e imbecil”. “Só um idiota para fazer isso aí. É um imbecil”. Logo em seguida, o ministro Barroso foi xingado de “filho da puta”. “Aquele filho da puta… está atrás de mim. Aquele filho da puta do Barroso”.
Um dos episódios mais conhecidos foi nas manifestações do dia 7 de setembro de 2021, quando o presidente chamou Alexandre de Moraes de “canalha. “Sai, Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro”.
Quando questionado sobre corrupção em seu governo, o presidente voltou a dar declarações falsas. “Nós estamos num governo sem corrupção”, disse.
No entanto, o governo Bolsonaro é o que mais coleciona ministros alvos de diversas investigações por suspeita de corrupção. Em 2022, entre os casos que ganharam repercussão está o do ex-ministro da educação, Milton Ribeiro, que chegou a ser preso pela Polícia Federal. Ele é investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência por suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi acusado de participar de um grupo de exportação ilegal de madeira. Em 2021, o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, foi acusado de pedir um dólar de propina por cada dose adquirida de vacina contra a Covid-19.
No total, oito declarações falsas e outras duas mal esclarecidas foram ditas pelo presidente, que chegou a usar uma “cola” na mão onde estava escrito: “Nicarágua”, “Argentina”, “Colômbia”, “Dário Masser” – este último um doleiro.
Bolsonaro disse ainda que iria aceitar o resultado das eleições, desde que fossem “limpas e transparentes”. Nesta terça-feira (23), o sabatinado será Ciro Gomes (PDT), que ainda na noite de segunda-feira reagiu à entrevista do presidente: “É constrangedor ver um presidente da República mentir com tamanha desfaçatez”, escreveu ele, no Twitter.