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Carlos Ghosn, presidente da Nissan-Renault, é preso no Japão por fraude fiscal

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 São Paulo – Venerado no Japão por salvar a Nissan da falência, Carlos Ghosn foi detido em Tóquio, nesta segunda-feira (19), por suspeita de malversação e sonegação fiscal, após uma investigação interna da fabricante de automóveis, que quer demiti-lo o mais rapidamente possível.

O conselho de diretores da Nissan decidirá nesta quinta-feira (22) sobre sua demissão.

“Na quinta-feira, vou convocar uma reunião do conselho para fazer uma proposta para afastá-lo do cargo de presidente”, afirmou o CEO do grupo japonês, Hiroto Saikawa, em entrevista coletiva nesta segunda.

A notícia veio à tona no fim da tarde desta segunda em Tóquio, hora local. A imprensa japonesa anunciou que o CEO da Renault, que também dirige os conselhos de administração da Nissan e da Mitsubishi Motors, estava sendo ouvido pelo Ministério Público de Tóquio e acabou sendo detido.

O franco-líbano-brasileiro de 64 anos é suspeito de sonegação fiscal.

Na Bolsa de Paris, a ação da Renault caía mais de 12%. Em Tóquio, o mercado estava fechado quando os primeiros boatos surgiram.

Carlos Ghosn “declarou, durante anos, renda inferior ao montante real”, afirmou a Nissan em um comunicado, de acordo com os resultados de uma investigação interna.

“Além disso, várias outras malversações foram descobertas, tais como a utilização de bens da empresa para fins pessoais”, acrescenta o grupo, que vai propor ao conselho administrativo “demiti-lo de seu cargo rapidamente”.

Outro executivo da Nissan, Greg Kelly, também está na berlinda, completou a Nissan.

De acordo com a emissora de televisão pública NHK, a sede da Nissan em Yokohama, perto de Tóquio, foi alvo de uma operação de apreensão e busca à noite.

Em declarações nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu que o governo será “extremamente vigilante” em relação “à estabilidade” da Renault e ao futuro de sua aliança com a Nissan.

“É muito cedo para se pronunciar sobre a realidade dos fatos”, declarou o presidente francês, questionado em uma entrevista coletiva em Bruxelas, ao lado do premiê belga, Charles Michel.

Mas – acrescentou – “o Estado, enquanto acionário (da Renault), será extremamente vigilante quanto à estabilidade da aliança e do grupo”. Macron afirmou ainda que o governo dará “todo seu apoio” ao “conjunto de funcionários” da empresa.

– ‘Cortador de gastos’ –

Ghosn chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado CEO dois anos depois.

Apelidado de “cost killer” (“cortador de gastos”), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa com volume anual de negócios da ordem de quase 100 bilhões de euros. Isso lhe valeu grande admiração no Japão.

Em abril de 2017, passou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial.

Como CEO da Nissan, ganhou, no período de abril de 2016 a março de 2017, quase 1,1 bilhão de ienes (8,8 milhões de euros no câmbio da época). Além disso, recebia mais de 7 milhões de euros como CEO da Renault, a qual dirigiu a partir de 2009, depois de ter sido seu diretor-geral desde 2005.

Carlos Ghosn também preside o conselho de administração da Mitsubishi Motors, empresa que ele salvou no fim de 2016, ao assumir, via Nissan, uma participação de 34% no grupo então envolvido em um escândalo de falsificação de dados.

A parceria Renault-Nissan-Mitsubishi é, hoje, uma construção de equilíbrios complexos, constituída de distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias. A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo do diamante, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.

As acusações contra Carlos Ghosn, que construiu essa aliança sozinho, acumulando funções como nenhum outro executivo desse nível até então, são um duro golpe no trio franco-japonês que reivindica o título de primeiro conglomerado automobilístico mundial. No ano passado, foram 10,6 milhões de carros vendidos, superando os concorrentes Toyota, ou Volkswagen.

Com informações AFP

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