Rio – Um trecho de 50 metros da ciclovia Tim Maia, que une as praias de Leblon e São Conrado, no Rio de Janeiro, desabou na manhã desta quinta-feira apenas três meses após sua inauguração. A estrutura da ciclovia, elevada acima do mar, teria sido atingida por várias ondas gigantes que fizeram ela cair como “uma folha de papel”, segundo testemunhas. Dois homens que estavam no local no momento da queda foram encontrados mortos no mar, segundo o Corpo de Bombeiros e há, pelo menos, mais um desaparecido.
Uma das vítimas foi identificada como o engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 53 anos, que corria pela ciclovia no momento do desabamento. O corpo foi deixado pelos bombeiros na praia de São Conrado, até onde chegaram sua viúva e seu cunhado, que o identificou.
A ciclovia foi um dos projetos estrelas do prefeito Eduardo Paes que, em janeiro e com o pé quebrado, a inaugurou enquanto andava num triciclo em plena febre pré-Olímpica. O projeto, cujas obras levaram mais de um ano e meio, custou quase 45 milhões de reais e se estende por 3,9 quilômetros. O prefeito, que na hora da tragédia estava em Atenas participando da cerimônia de acendimento da tocha olímpica que marca a contagem regressiva dos 100 dias até a Olímpiada, adiantou seu retorno ao Rio, e enviou uma nota qualificando a tragédia como “imperdoável” e prometeu investigar as causas.
Pedro Paulo Carvalho, secretário executivo de Coordenação, braço direito de Paes e pré-candidato à Prefeitura, afirmou que aguarda o parecer técnico dos engenheiros responsáveis pela obra e qualificou de “desastre inaceitável” a tragédia. Questionado, no entanto, se houve uma falha na construção da ciclovia, Pedro Paulo não confirmou e pediu prudência. “Não vamos medir esforços para cobrar os responsáveis, mas é prematuro fazer acusações. Fizemos estudos geo técnicos antes da obra, precisamos entender primeiro o que aconteceu”, afirmou.
Construtora de ciclovia é da família do secretário do Rio de Janeiro
A empreiteira Concremat, responsável pela construção da ciclovia Tim Maia, que desabou nesta quinta-feira, 21, no Rio, pertence à família do secretário de Turismo da cidade do Rio, Antônio Pedro Viegas Figueira de Mello. Ao menos duas pessoas morreram no desabamento de um trecho da ciclovia, inaugurada em janeiro deste ano.
A Concremat foi fundada por Mauro Ribeiro Viegas, avô de Antonio Pedro Viegas Figueira de Mello. Hoje, a empresa tem como diretor-presidente Mauro Viegas Filho.
A obra da ciclovia custou R$ 45 milhões e começou a ser construída em setembro de 2014. Em seu site, a Concremat afirma que o consórcio Contemat Geotecnia/Concrejato foi contratado pela Fundação Geo-Rio, braço da Secretaria Municipal de Obras da Prefeitura, para executar a contenção de encosta e a estabilização da área para a implantação da ciclovia.
Em informativo de outubro de 2015, a Concremat divulgou um texto em seu site sobre a ciclovia Tim Maia em que o gerente técnico Jorge Schneider explicou que “cerca de metade da extensão total da ciclovia foi concebida com uma estrutura independente, projetada ao lado e à jusante da Avenida Niemeyer”.
Segundo a Concremat, ao longo do percurso, “foram executadas contenções com cortinas atirantadas, contra-fortes atirantados e muretas de contenção chumbadas”. “Para a proteção dos taludes resultantes de escavações para a construção das fundações, foram também aplicadas as técnicas de solo grampeado e rip-rap”, informou a empreiteira.
“Tivemos o desafio de realizar uma obra em área urbana, com a construção em toda a sua extensão junto a uma avenida com largura reduzida e intenso fluxo diário de veículos, além de estar inserida em uma área com forte presença habitacional, onde os estreitos passeios são para grande parte dos moradores a única forma de acesso às suas residências”, contou o coordenador da obra, Saulo Rahal.
O informativo da empreiteira disse ainda que “com a impossibilidade de interdição da via durante o dia para as concretagens, além de dificuldades de escoramento por conta da altura e das irregularidades da encosta, a solução encontrada foi de pré-moldagem tanto da meso como da superestrutura, adotando-se para esta lajes PI protendidas com vãos de 6 e 12 metros, onde a associação de elementos retos e curvos permitiu com que a ciclovia acompanhasse todo o trajeto da Niemeyer”.
O pedaço arrancado pela água tem mais de 50 metros. A ciclovia é suspensa e junto ao mar e está interditada, assim como a Niemeyer. Técnicos da Prefeitura ainda vão avaliar se há risco de outros desabamentos na ciclovia.
A estrutura foi levada pela ressaca do mar de São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Eduardo Marinho Albuquerque, de 53 anos, e um homem de 45 anos, cuja identidade não foi divulgada, foram as duas vítimas. Outras três pessoas teriam ficado feridas O corpo de Albuquerque foi identificado por um cunhado no local Os dois corpos foram localizados no mar de São Conrado por bombeiros e ainda estão na areia.
A Secretaria de Turismo da Prefeitura do Rio não retornou ao contato da reportagem.
Com a palavra, a Concremat
“O Consórcio Contemat-Concrejato informa que uma equipe técnica da empresa já se encontra no local, trabalhando em coordenação com a Secretaria Municipal de Obras. As prioridades neste momento são garantir o atendimento às vítimas e seus familiares e avaliar as causas do acidente.”
A reportagem questionou a Concremat se o secretário teve alguma influência na contratação da empresa da família.
“O Consórcio participou de processo de licitação que foi acompanhado por todos os órgãos de fiscalização competentes”, respondeu a empreiteira.
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