São Paulo – O maior estudo já realizado sobre genomas de câncer de mama revelou a existência de cinco genes, até então desconhecidos, associados a essa doença. A pesquisa identificou ainda 13 novas mutações que influenciam no desenvolvimento do tumor.
As pesquisas também mostram quais tipos de variações genéticas existem em cânceres de mama e em que parte do genoma elas ocorrem.
As descobertas, consideradas um marco no combate a esse tipo de câncer, foram publicadas nesta segunda-feira em dois estudos, nas revistas “Nature” e “Nature Communications” .
O Instituto Wellcome Trust Sanger — um dos maiores centros de estudo de genoma do mundo, no Reino Unido — liderou a análise de 560 genomas de cânceres de mama: 556 em mulheres e quatro em homens. A colaboração incluiu dados de pacientes de lugares como Estados Unidos, Europa e Asia. Os cientistas chegaram a 93 conjuntos de instruções — ou genes — que, se modificados, podem causar tumores. A maioria deles já eram conhecidos, mas, desta vez, os pesquisadores acreditam que alcançaram o quadro mais definitivo possível de mutações.
Diretor do Instituto Wellcome Trust Sanger, Mike Stratton considerou que as conclusões da pesquisa são um divisor de águas para o estudo do câncer de mama.
— Existem cerca de 20 mil genes no genoma humano. E, agora, que temos uma visão completa sobre o câncer da mama, sabemos que há 93 desses genes que, se alterados, irão converter uma célula normal da mama em uma célula cancerosa. Esta é uma informação importante — ressaltou ele, em entrevista para a “BBC”.
Além de fornecer mais informações sobre as causas do câncer de mama, os resultados da pesquisa evidenciam que cada caso da doença apresenta características específicas, e, portanto, os tratamentos devem ser personalizados, dizem os cientistas.
‘ASSINATURAS DE MUTAÇÃO’ DÃO CAUSAS DA DOENÇA
Segundo a pesquisa, o genoma de câncer de cada pessoa é um relato histórico completo das alterações genéticas que elas adquiriram ao longo da vida. Desde o desenvolvimento de uma pessoa a partir de um óvulo fertilizado até a idade adulta, o DNA das células vai acumulando alterações genéticas.
Isto acontece porque o DNA humano é constantemente danificado por interferências do ambiente ou simplesmente por conta de desgastes da célula. Estas mutações, explicam os cientistas, formam padrões — também chamados de assinaturas de mutação —, que podem ser detectados e dar pistas sobre as causas do câncer.
— No futuro, seremos capazes de traçar o perfil individual de genomas de câncer, para podermos identificar o tratamento com mais chances de ser bem-sucedido para uma mulher ou um homem com câncer de mama. Este é um passo mais perto de um sistema de saúde personalizada para o câncer — disse a principal autora do estudo, Serena Nik-Zainal, no texto de divulgação do trabalho.
A equipe de Serena procurou, ao longo do estudo, vestígios das mutações que estimulavam o crescimento de câncer de mama em cada um dos pacientes. Eles descobriram que as mulheres que carregam o gene BRCA1 ou BRCA2, que dá maior risco de desenvolver câncer de mama e de ovário, tinham perfis de genoma do câncer muito distintos entre si, e também eram muito diferentes de outros cânceres de mama. Esta descoberta pode ajudar a classificar melhor os pacientes.
— Todos os cânceres aparecem devido a mutações que ocorrem em todos nós no DNA das nossas células ao longo das nossas vidas. Encontrar essas mutações é crucial para entender as causas do câncer e desenvolver melhores terapias. Este enorme estudo, que examina em detalhes as milhares de mutações presentes em cada um dos genomas dos 560 casos, faz com que fiquemos muito mais próximos de uma completa descrição das mudanças no DNA no câncer de mama, e, assim, próximos também de um entendimento sobre as causas da doença e de oportunidades para novos tratamentos — afirmou o diretor do Instituto Wellcome Trust Sanger, Mike Stratton.
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