MANAUS – A decisão do presidente Lula (PT) de indicar Belém para sede da COP 30, em 2025, causou forte impacto em Manaus. Quando esteve na COP 27, ano passado, e lançou a candidatura da Amazônia para o evento internacional, Manaus foi a primeira cidade a “levantar a mão” na fila das pré-candidatas. Mais preservada e acostumada a eventos internacionais, a cidade foi ignorada pelo petista, que preferiu apresentar ao mundo a capital do estado que mais desmata a Amazônia no Brasil: o Pará.
Para a bióloga, ambientalista e pesquisadora da Embrapa, Elisa Vieira Wandelli, Manaus perde uma grande oportunidade sem a COP. À nossa equipe de reportagem, a respeitada pesquisadora avaliou o nosso prejuízo enquanto a metrópole mais importante da Amazônia. “Se a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) fosse realizada em Manaus a região seria muito favorecida, pois uma série de ações socioambientais teriam que ser realizadas para que a cidade e o estado pudessem receber adequadamente os ilustres visitantes preocupados com as mudanças climáticas e sabedores da importância fundamental da Amazônia para a vida planetária.”
Lula optou pela decisão política. Escolheu Belém sem consultar sua ministra Marina Silva. O governador Helder Barbalho é forte aliado do presidente e tem até filho no ministério, o da Cidades, comandado por Jader Filho. A decisão leva em conta acordos em Brasília, e deixa a questão ambiental em segundo plano.
“Portanto, os movimentos socioambientais e cidadãos e entidades locais preocupados com as florestas, com as águas, com os povos amazônidas e com o clima planetário utilizariam a realização da COP 30 em Manaus como uma oportunidade para exigir, com mais propriedade, do poder público que pelo menos as seguintes políticas públicas socioambientais fossem fortalecidas e ou implementadas: museus e recuperação dos já existentes; medidas eficientes para retomar o monitoramento e a fiscalização e mitigar o desmatamento e criar e conservar as áreas protegidas, medidas eficientes, justas e democráticas para o pagamento dos serviços ambientais fornecidos pelos povos amazonidas, fortalecimento da pesquisa e das cadeias ligadas a sociobiodiversidade, com ênfase nos benefícios para as comunidades locais, proteção efetiva do nosso maior símbolo biocultural que é o Encontro das Àguas do Rio Negro com o Solimões.”, pontua a pesquisadora.
Pará, estado desmatado
A relação do desmatamento com o baixo desenvolvimento, a pobreza e as más condições de vida ganhou uma nova evidência científica com a publicação do Índice de Progresso Social (IPS) dos 772 municípios da Amazônia Legal. Liderado pelo Imazon, o estudo revelou que os que mais desmatam estão num cenário ainda pior. E nesse sentido, ninguém supera o Pará, candidato à COP pelas mãos de Lula.
Na lista dos dez mais que desmatam, oito são do Pará. Veja abaixo os dez municípios onde houve maior desmatamento da Amazônia desde 2018 e que tiveram as piores notas no IPS (de zero a 100 pontos, em que zero indica o pior índice de progresso social):
- Pacajá (PA) – 44.34 pontos
- Portel (PA) – 46,25 pontos
- Apuí (AM) – 47,49 pontos
- Senador José Porfírio (PA) – 49,26 pontos
- Novo Repartimento (PA) – 49,71 pontos
- Uruará (PA) – 49,84 pontos
- Anapu (PA) – 49,95 pontos
- Novo Progresso (PA) – 51,60 pontos
- Cujubim (RO) – 52,11 pontos
- São Félix do Xingu (PA) – 52,94 pontos
Companheiro Helder
Lula fez questão de gravar um vídeo com o “companheiro Helder”, não citou mais Manaus, que não será visitada pelos líderes internacionais caso a COP venha para o Brasil. “Estou aqui com o companheiro Helder parabenizando ele pelos 407 anos que completa amanhã a cidade de Belém e dando a boa notícia a ele que o Itamaraty formalizou a cidade de Belém como a cidade que está disputando a candidatura para realizar a COP 30 em Belém”, afirmou Lula em vídeo divulgado em rede social.
O que é COP?
A Conferência das Partes é um encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, sendo considerada um dos eventos mais importantes sobre mudanças climáticas no mundo.
Ela é realizada anualmente e reúne líderes de quase todos os países em prol do mesmo objetivo: debater as mudanças climáticas e encontrar soluções para os problemas ambientais. A COP é realizada em um país diferente a cada encontro e recebe um número relativo à sua edição. A rio 92 é considerada o berço da COP.
A COP1 foi realizada em Berlim, na Alemanha, em 1995, e foi o primeiro movimento feito pela ONU para negociar metas e prazos para a redução da emissão de gases de efeito estufa. Entre os acordos mais importantes criados durante o evento está o Protocolo de Kyoto (COP3, em 1997), o Acordo de Paris (COP21, em 2015), e o mercado global de carbono (COP26, em 2021).
Durante o evento, são revisadas as emissões de carbono dos países membros, de modo a avaliar o progresso de cada local e quais ações devem ser adotadas para melhorar os números. Assim, a ONU visa neutralizar as concentrações de gases na atmosfera que provocam, além do aumento da temperatura, diversos impactos no dia a dia, como a falta de alimentos, o risco à saúde humana e a perda de espécies.