Belo Horizonte – Foi por acaso que os pais de Isabela, 6 anos, ficaram sabendo sobre a formatura do ensino infantil da filha. “A mãe de uma menina da classe dela pediu uma carona para Telma [mãe da Isabela] para ir na formatura. Minha cunhada não estava sabendo de nada”, disse a tia da menina, Fabricia Andrade, 37 anos, gerente administrativa.
Telma Cassiano, 39, professora do ensino infantil da rede municipal de ensino e que está grávida de 6 meses de uma gestação de risco, viu a pressão subir às alturas, depois que constatou que a filha tinha sido excluída da formatura. Chorando, ligou para a cunhada. “Eu não conseguia entender nada. Quando me dei conta do que tinha acontecido, também cai no choro. Disse à ela que isso não ficaria assim e que as pessoas iriam saber o que aconteceu com a Isabela”, desabafou Fabricia.
Na mesma hora, a tia fez uma homenagem à sobrinha no Facebook, seguida de uma nota de repúdio à escola municipal Cristo Redentor, de Oliveiras (MG). No post, ela contou que Isabela tem a síndrome do amor. “Quero apresentar a Isabela! Sim, ela é minha sobrinha! E sim, ela tem a síndrome do AMOR! Antes de desabafar, quero parabenizar a minha princesinha. Parabéns por sua formatura! Voe Isabela, que nada e nem ninguém te impeça de voar bem alto, meu amor”, escreveu.
Logo abaixo, Fabricia escreveu que as pessoas próximas e familiares sabiam das grandes batalhas que eles já passaram [Isabela nasceu com problemas no coração, fez várias cirurgias e usa marca-passo], e que a menina ficou fora da formatura, da confecção dos convites e do ensaio das músicas que eles iriam apresentar:
“Será que alguém desta “ESCOLA” se assim podemos dizer, pensou como ela se sentiria? Como os pais estão sentindo nesse momento vendo a exclusão ao invés do que tanto lutamos que é a inclusão em sala de aula? Será mesmo que esses “Educadores” fazem por amor o que lhes foi confiado. A Isabela se forma amanhã! Os pais nem receberam o convite da formatura da filha! É lamentável, desprezível, desumano o que vocês fizeram! Isabela não é diferente de nenhuma outra criança! Mas tenho certeza que ela é muito melhor do que os professores e diretores desta escola! O que sobra nela que é amor, falta em vocês!”, disse a tia da menina.
Segundo Fabricia, a mãe de Isabela ligou para a professora para pedir uma explicação sobre o ocorrido e que, pelo telefone, ela apresentou três versões. “A primeira foi de que haviam esquecido por conta dos 500 alunos que tem na instituição, depois disseram que ela não era da turma que estava se formando e, por último, que a diretora tinha esquecido de fazer o convite e o diploma da menina”, disse Fabricia.
Diante da repercussão do caso nas redes sociais, a diretora da escola foi até a casa dos pais para fazer o convite e chamar a menina para a festa, que aconteceria no outro dia. Mas os pais de Isabela disseram que não iriam, pois a exclusão já havia acontecido e, também, porque a filha não estava muito bem de saúde.
“Não dava mais para arrumar o que já foi feito. É uma tristeza muito grande e eu espero, do fundo do meu coração, que a escola reveja seus conceitos, seus valores e que não exclua mais ninguém. A Isabela, assim como toda a criança com síndrome de Down, não é diferente de ninguém, ela aprende, tem seus sentimentos e o direito de se formar, como todo mundo”, disse Fabricia bastante emocionada.
No post, que já teve milhares de compartilhamentos, várias mães de filhos com Down se solidarizaram com a família. “O duro foi saber que isso não acontece só com a Isabela. Não podemos ficar caladas. Se fala tanto em inclusão, mas na prática isso realmente não acontece. Isso precisa acabar”, desabafou Fabricia.
Entramos em contato com Andrea Pereira, secretária municipal de educação de Oliveiras (MG), e ela nos contou que houve uma série de erros de comunicação e que a escola não teve a intenção de excluir a menina propositalmente. “Como ela sempre faltava por motivos de saúde, deve ter havido algum problema de comunicação. Mas a Isabela inclusive fez a foto com a beca e com o canudo, além da geral com a turma toda. A própria mãe levou a menina para escola para tirar a foto”, disse. Andrea ainda acrescentou que já foi aberto um inquérito para averiguar o ocorrido e saber o que, de fato, aconteceu.
Com informações Revista Crescer