Rio – O clima entre os detentos do Presídio Ary Franco, em Água Santa, Zona Norte do Rio de Janeiro, não era dos melhores durante a chegada do empresário Eike Batista, nesta quarta-feira (08) pela manhã. Ao ser levado para a cela que ocuparia, ouviu ameaças, enquanto passava pelos corredores. Na descrição de um dos presentes, “vou te matar, desgraçado” foi a frase mais amena pronunciada enquanto Eike seguia para o cárcere.
Eike teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, a pedido da força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio, na fase Eficiência, deflagrada na semana passada, sob suspeita de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Ary Franco é o presídio para onde vão os detentos com pedido de prisão decretada pela Justiça Federal sem curso superior. A unidade também recebe os presos do Comando Vermelho (CV). Às demonstrações de hostilidade juntaram-se as alegações de agentes penitenciários de que o fato de Eike ter patrocinado o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora fazia dele alvo da ira dos bandidos da facção. Eike ficaria em ala neutra, longe das facções, mas seria, de acordo com os agentes, alvo fácil em caso de rebelião. Diante do quadro, o secretário estadual de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro, decidiu expedir ofício avisando à 7ª Vara Federal Criminal que removeria o preso para Bangu 9, o que ocorreu poucas horas depois. A autoridade penitenciária tem a prerrogativa de movimentar presos considerando o risco de integridade. Em Bangu 9, Eike passou a ocupar uma ala destinada também a presos sem ensino superior, em cela dividida com outros detentos presos na Operação Lava Jato.
Ao chegar ao Presídio Ary Franco, antes das demonstrações de hostilidade, Eike aparentava calma, sem demonstrar tensão nem nervosismo, atendendo de forma serena às determinações dos agentes. Só fez um único pedido: levar para a cela o travesseiro com o qual desembarcou no Brasil, em voo da American Airlines vindo de Nova York, de domingo para segunda-feira. Depois de passar por revista, o travesseiro pôde acompanhá-lo.
Para os procuradores, Eike foi alvo do pedido de prisão preventiva porque pagou US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral por meio de contas no exterior e simulação de negócios inexistentes por meio de contratos fraudados. Ele foi um dos nove que tiveram o pedido de prisão concedido. Segundo o Ministério Público Federal, Eike também obstruiu a Justiça ao alegar, em depoimento no fim de novembro, ter feitos pagamentos ao escritório da mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, por ordem da Caixa Econômica Federal. O banco estatal negou ter feito tal orientação.
O Presídio Ary Franco tem capacidade para 968 presos, mas abriga cerca de 2.100. As instalações são precárias, com infestação de insetos e até morcegos. É considerado um local de triagem de detidos pela polícia. Já passaram por lá o banqueiro André Esteves e o empreiteiro Fernando Cavendish, pegos na Lava Jato em 2016. Em seguida, os dois foram transferidos para Bangu 8, onde Cabral permanece recluso desde novembro. Eike não pode se juntar ao ex-governador nessa cadeia de celas especiais porque não tem curso superior.
Chamado de Bangu 9, o presídio Bandeira Stampa, que recebeu Eike, não está superlotado: tem 541 vagas e cerca de 420 reclusos atualmente. O cárcere foi destinado a milicianos, policiais criminosos tidos como adversários do Comando Vermelho. Nas últimas semanas, familiares dos presos em Bangu 9 reclamaram de ameaças de parentes de traficantes reclusos na unidade próxima. Os milicianos temem uma invasão da cadeia pelos chefes do CV.
Eike prestou depoimento na tarde desta terça-feira (31) na Polícia Federal. “Ele esclareceu à PF que não possuía qualquer informação a respeito da deflagração da Operação Eficiência e, por orientação da defesa, permaneceu em silêncio, reservando-se ao direito de falar somente em juízo”, afirmou o advogado Fernando Martins. O defensor disse que não soube das ameaças contra Eike no Ary Franco.
Com informações ÉPOCA.