São Paulo – O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, afirmou nesta segunda-feira, 14, em São Paulo, que “todo funcionário público é responsável pelos atos que têm”. Lima se referiu à visita da futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao Palácio do Jaburu, em um encontro na noite de 8 de agosto, fora da agenda, com o presidente Michel Temer.
Lima revelou que a força-tarefa da Operação Lava Jato de Curitiba foi convidada “a comparecer no Palácio do Jaburu à noite” às vésperas da votação do impeachment. A ex-presidente Dilma Rousseff foi alvo de processo de impedimento no ano passado.
“Tenho para mim que encontros fora da agenda não são ideais para nenhuma situação de um funcionário público. Nós mesmos às vésperas, no dia da votação do impeachment, fomos convidados a comparecer no Palácio do Jaburu, à noite, e nos recusamos. Nós entendíamos que não tínhamos nada que falar com o eventual presidente do Brasil naquele momento”, afirmou. “Só houve um convite e nós recusamos”, enfatizou.
“Eu não sou o corregedor do Ministério Público. Eu posso dizer por nós. Nós estivemos em uma situação semelhante e nos recusamos comparecer. Nós temos agora que avaliar as consequências dentro da política que o Ministério Público vai ter a partir da gestão dela”, disse o procurador.
No dia 8 de agosto, Temer recebeu no Palácio do Jaburu, a nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em encontro marcado fora da agenda oficial. Raquel chegou por volta das 22h, em seu carro oficial.
Na ocasião, a assessoria do Planalto disse que Temer atendeu a um pedido de Raquel para conversar sobre a sua posse no cargo, que será realizada no dia 18 de setembro, um dia depois do encerramento do mandato do seu algoz, o atual procurador, Rodrigo Janot.
“É claro que ela tem que se explicar, ela deu uma explicação, ela que deve, então, ser cobrada das consequências desse ato”, disse o procurador da Lava Jato. “Infelizmente, não há como fugir da responsabilização das pessoas perante a sociedade”, comentou.
Raquel Dodge vai substituir o atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em setembro. Ela foi escolhida por Temer na lista tríplice eleita pela classe. Pegou o segundo lugar no pleito, suplantada pelo preferido de Janot, e acabou indicada pelo presidente.
Lima contou que a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, teve “muitos conflitos com o Dr Rodrigo Janot nesse período”. “Maior parte resolvido internamente sem nenhum tipo de problema. Dra. Raquel Dodge tem um histórico muito bom e muito forte na área criminal, inclusive do Ministério Público Federal. Nós acreditamos, e a equipe dela é excelente, é a equipe inclusive que atuou no caso do mensalão. Não acreditamos que aja uma mudança na essência. Ministério Público só tem uma atividade: investigar e acusar quem for o responsável”, afirmou.
“Nós temos, na verdade, duas investigações da Lava Jato. Nossa, sob responsabilidade da Lava Jato, em Curitiba, e agora talvez espalhada pelo Brasil, cada grupo de Lava Jato pelo Brasil tenha inteira responsabilidade pelos atos que toma. O procurador-geral pouco pode influenciar nas decisões.”
O procurador da Lava Jato participa do Fórum de Compliance da Amcham, na sede da entidade, em São Paulo. O seminário trata da construção da cultura de integridade e anticorrupção no setor público e privado brasileiro.
Por Julia Affonso e Marcelo Osakabe, da Reuters