MANAUS–AM| Manaus passou momentos de terror entre março e junho, com um explosão de casos de Covid-19 em Manaus. A cidade virou notícia mundial com cenas dignas de filmes apocalípticos, com pessoas sendo enterradas em valas coletivas.
Tudo isso ocorreu devido a ações irresponsáveis de negacionistas, que desafiaram o vírus e fizeram coro ao presidente da República, Jair Bolsonaro, minimizando e por muitas vezes debochando do vírus. Compartilharam amplamente ser mentira as notícias veiculadas, atacaram a impressa por fazer apenas seu papel, o de informar, sejam as notícias boas ou ruins.
Os casos retraíram, houve uma flexibilização nas medidas de contenção da propagação do vírus. De repente, casas de shows, como Porão do Alemão – cujo proprietário ia sempre às redes sociais chorar, se importando apenas com o próprio bolso -, All Night, entre outras, tinham filas quilométricas de pessoas para entrar, flutuantes e bares sempre lotados, pessoas nas ruas sem máscara, o pior, tanto funcionários quanto clientes, mostrando desprezo pelas vidas alheias, sequer usarem máscara. Há exceções? Sim, mas poucas.
Agora, seis meses depois, as consequências de tantas inconsequências chegaram.
Voltamos a viver o terror de outrora. Voltamos a ser notícia novamente, mas pela pior razão possível.
Os negacionistas novamente tentam colocar em descrédito a impressa. O pior que um deles, um dito cidadão de bem defensor da família e dos bons costumes, seguidor fanático de Bolsonaro e Olavo de Carvalho, é profissional da imprensa, mas acostumado a sempre falar mal dos seus colegas de trabalho que ousam ir contra as ideias de seu ídolo maior. Tal jornalista, após a divulgação de um vídeo com um fila de carros na frente do cemitério Parque Tarumã que seriam de pessoas para enterrar seus mortos, passou a compartilhar uma fake news dizendo que o vídeo era falso, tentando vender a ideia de que a fila era para o enterro de um pastor.
Quem esteve lá no “Tarumã” para enterrar seus mortos sabe a verdade, sabe que há sim filas de carros funerários. Quem perdeu um familiar, sabe a dor de ter que estar esperando a vez de entrar com seu ente querido para ser sepultado.
Enquanto isso, temos uma população que brigou para ter o direito de aglomerar, se contaminar e contaminar outras pessoas. Temos uma população que protestou pelo direito de ser responsável pela morte de muitas pessoas que virão a tombar para o Covid-19.
Enquanto os negacionistas compartilham notícias falsas e tentam atacar a imprensa por fazer seu trabalho, nós, que perdemos alguém para esse vírus implacável, choramos nossos mortos, que eram filhos de alguém, irmãos de alguém, pais de alguém, avós de alguém.
Não relaxem, isso não acabou, e o vírus voltou com força total.