Brasília- Um certo Cônego Calheiros, segundo registros históricos oficiais, integrava a junta governativa de Murici bem antes que ela se tornasse cidade, em 1892. Mas foi somente no século XX, em 1992, que a família Calheiros passou a ser vista como parte da elite econômica e política local.
Naquele ano, o já ilustre deputado Renan Calheiros, num intervalo sem mandato, voltaria à terra natal para comandar a campanha vitoriosa do pai, Olavo Calheiros Novais, à prefeitura. Nas últimas duas décadas, o clã Calheiros, num curioso revezamento tio-sobrinho, domina o município, distante apenas 50 quilômetros de Maceió.
Este ano, quem está cotado para substituir Remi Calheiros (PMDB), irmão do presidente do Senado, é seu sobrinho, Olavo Neto, filho do deputado estadual Olavo Calheiros. Aos 29 anos, Olavinho, que já é vice-prefeito de Murici, declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 1,9 milhão, originário da empresa e agropecuária Santo Aleixo, localizada na zona rural de Murici, onde os Calheiros são hoje fazendeiros.
Antes de Olavinho, quem se revezou com o tio Remi, que conclui seu terceiro mandato (1996, 2000 e 2012), foi Renanzinho, filho de Renan, prefeito em 2004 e 2008, e hoje atual governador de Alagoas.
O prestígio político de seus filhos tem servido para colocar a pequena Murici no mapa — infelizmente não por boas razões. Incluída nas comemorações à Olimpíada, destacou-se por ter o menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) dentre as 327 cidades escolhidas para receberem a tocha. Seu índice, 0,527, deixa-a na lanterna dos municípios brasileiros. O mau resultado deve-se principalmente à Educação: segundo o IBGE, o analfabetismo atinge 40% da população adulta.
No Mapa da Desigualdade de 2003, a incidência de pobreza chegava a 65% — somente dez dos 102 municípios alagoanos ostentavam índices piores. A cidade, que enfrenta a decadência da cana-de-açúcar, tem população estimada em 28 mil habitantes. Em 2015, 5.053 famílias dependiam do Bolsa Família, que consumiu R$ 9,3 milhões.
Também no ano passado, Murici foi sorteada para sofrer auditoria federal nos cerca de R$ 40 milhões enviados para Educação e Saúde. A então CGU, hoje Ministério da Transparência, apontou problemas, como transferência para beneficiários não identificados e para outras contas da prefeitura, na aplicação de cerca de R$ 21 milhões da Educação. Também foram verificadas, em menor escala, irregularidades no uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).
As informações são do Jornal O Globo.