MANAUS – A filha do casal de pescadores que ficou à deriva no Amazonas contou detalhes do que a mãe, Maria das Graças Mota Bernardo, 64 anos, sofreu, ao lado do corpo de José Nilton de Souza, de 68 anos.
Cristiane Bernardo conta que a mãe remou, lutou conta urubus e jacaré para salvar o corpo do marido e teve muita força. José morreu nos braços de Maria, vítima de um infarto. O casal saiu da Comunidade Carão, em Novo Airão, no dia 29 de março.
Veja os principais trechos contados pela filha do casal.
“Eles andavam com um fogãozinho e uma botija. Eles jantaram, e ele foi deitar na rede. A corda da rede estalou e ele se espantou, gritou, levantou e bateu o joelho. Ele sentou na rede e começou a se abanar com pano. Ele dizia pra ela que estava com calor”, disse a filha.
“Ela disse que ele levantou, deu grito e caiu. Ele levantou da rede com dificuldade. Ela pegou, ela levantou a cabeça dele e ele deu o último suspiro”, relatou Cristiane.
“Eles tinham planejado essa viagem há meses. Ele queria levar ela para bater fotos. Ia ser o momento deles”, contou.
“Como acabou o peixe cru e a farinha, um dia ela só bebeu água. Noutro dia, ela só comeu farinha com água e tomou suco de limão puro”, disse.
SEM EMPATIA
No terceiro dia, um senhor passou pelo barco e não deu ajuda. “Ela pediu ajuda. Ele simplesmente não deu ajuda, continuou seguindo. Gritava e ninguém respondia”, conta a filha. Foi quando a mãe começou a bater panelas na canoa.
“Ela começou a remar. Não conseguia mais dormir. A força dela era para trazer o corpo dele pra casa, trazer pra família, pra dar um enterro digno pra ele. Pra dar força, ela conversava com ele”
“Ela disse que os urubus começaram a sentar em cima da canoa. Ela batia, ela gritava. Ela botou lençol nele. Tira a lona de cima do toldo e botou nele, porque as abelhas e os mosquitos já estavam sentando no corpo dele”
“Ela sabia que a qualquer momento, ela poderia cair para dentro da água e ela não sabe nadar”, disse a filha.