São Paulo – O término do relacionamento entre a consultora A.P, de 47 anos, e Sérgio (nomes fictícios para preservar a identidade dos envolvidos) foi em novembro de 2018. Mas, sem aceitar o fim, o ex começou uma série de ataques pessoais, além dos que já vinha praticando ao longo dos três anos e meio em que estavam juntos.
No Réveillon de 2019, ele teria invadido o Facebook de A.P. e publicado fotos dela nua e de calcinha e sutiã. “Parece coisa de filme. Postou para todos os meus amigos verem. Foi muito humilhante”, contou a consultora, que vem sofrendo violência verbal, física, psicológica, patrimonial, crime contra a honra, calúnia, difamação e ameaça.
Ele teria publicado nome, telefone, endereço e fotos nuas dela, tiradas sem consentimento enquanto ela dormia, em sites de prostituição e aplicativos de namoro. As imagens teriam chegado até para grupos de funcionários e para o RH da empresa em que a consultora trabalha.
A vítima afirma que procurou uma delegacia no dia 1º de janeiro. “Fui na 35ª DP, em Campo Grande (Zona Oeste), fazer uma denúncia, porque ele estava publicando fotos da rua da casa da minha família, onde eu estava. Os policiais me trataram como se eu quisesse fazer fofoca ou uma vingança contra o ex. Um delegado não estava nem aí, me avisou que tinha uma denúncia mais urgente para atender e que eu teria que esperar, embora não houvesse mais ninguém na delegacia. Esperei três horas e acabei desistindo”, disse a vítima.
“No dia 2, fui a 17ª DP, em São Cristóvão, perto de onde trabalho, mostrar as ameaças. O delegado disse que eu teria que voltar com todo aquele material impresso. Eu falei que voltaria, mas que se alguma coisa acontecesse comigo antes, a culpa seria deles, que nem quiseram me ouvir”, relatou. De acordo com ela, só aí ela recebeu mais atenção. “Quando puxaram a ficha dele na delegacia, viram que já havia diversas outras denúncias contra ele, feitas pela ex-mulher”, contou. Uma medida protetiva foi expedida, mas, para ter efeito, o documento precisaria ser assinado pelo acusado, que nunca foi encontrado.
“Meu telefone começou a tocar e homens perguntavam como marcar o programa que tinham visto anunciado. Meu número era funcional e eu tive que contar no meu trabalho o que estava acontecendo, porque não dava mais para trabalhar, era o dia inteiro o telefone tocando. Ele colocou o endereço da casa da minha família e todo tipo de homem começou a aparecer lá. Ficavam carros parados na rua”, conta ela, que teve muito apoio da empresa. Ela foi encaminhada para acompanhamento psicológico.
De acordo a consultora, dia 13 de maio, ela foi, pela primeira vez, a uma Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). No dia seguinte, 14 de maio, foi à DRCI, (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática), que investiga o caso. Ela e a advogada, Alexandra Bruna Muniz, também denunciaram o caso para o Ministério Público do Rio de Janeiro, mas até agora, ele segue solto, criando novos perfis.
“Queria muito poder mostrar com o meu caso que vale a pena outras mulheres romperem com a violência. Que vale denunciar, ter coragem para dizer o que está acontecendo. Queria poder dizer que a Polícia e o Ministério Público estão fazendo algo por mim, para as pessoas que passam por isso acreditarem que elas também vão ser ajudadas, mas, infelizmente, não tem sido assim. É muito difícil gritar por ajuda e não receber”, diz ela. “Tenho medo que, no momento que essa matéria vá ao ar, eu já não esteja mais viva para ler”, falou chorando.
HISTÓRICO DO RELACIONAMENTO
De acordo com A.P, quando conheceu Sérgio, ouviu histórias sobre o temperamento dele e as brigas explosivas que tinha com a ex-mulher:
“Conheci o Sérgio no Facebook, a gente tinha um amigo em comum. Começamos a conversar e nos aproximamos. Ele estava recém-divorciado, tinha terminado um casamento de 20 anos, morava com a filha, de 19 anos. Pouco tempo depois, fui morar com ele e com a filha dele. Era legal no começo, uma relação calma.
Eu achava estranho o fato de ainda haver muita coisa da ex-mulher na casa dele. O apartamento tinha marcas de facada na porta. Ele contava que a ex dele era louca, maluca, desequilibrada e que tinha tentado machucá-lo em uma briga”, diz a consultora, que acreditou que as brigas violentas fossem um episódio isolado na vida romântica de Sérgio.
Porém, após seis meses de relacionamento, A.P afirma que foi agredida pela primeira vez. “Eu discutia porque queria ter uma vida normal, ver minhas amigas, ficar com a minha família. Eu só podia ir de casa para o trabalho, e ele marcava a hora que eu saía e chegava. Em uma discussão, ele partiu para cima de mim, me bateu, quebrou o dedo do meu pé”, relembra.
Além disso, Sérgio também passou a ter atitudes controladoras. “Ele não deixava eu ter senha no celular, pegava meu aparelho, lia minhas conversas com a minha irmã, e, em qualquer conversa, via motivo para ciúme, sendo que não havia nada. Tenho dois filhos, um de 24 e uma de 22 anos, e não podia vê-los, nem meus netos. Só se ele fosse comigo. Certo dia, ele arranjou uma confusão na minha casa e a minha família passou a rejeitá-lo. Assim, me isolei de todo mundo”, disse.
Ela conta que, a partir desse momento, quis terminar a relação. Mas vieram as ameaças.
AMEAÇAS
Fotos da filha, da creche dos netos, da porta da casa da família de A.P eram utilizadas como instrumento de ameaça por Sérgio. “Quando eu comecei a falar em terminar, que não estava mais feliz e não queria mais, ele começou a me ameaçar. Conversava comigo com uma faca do lado. Mas meu maior medo não era eu”, afirmou a consultora. Sempre me ameaçava dizendo que, se eu contasse para alguém, ele iria me matar”, diz ela que, com medo, passou três anos e meio nessa relação.
Em novembro de 2018, depois de uma crise de ciúme em que ele a colocou para fora, A.P conseguiu, finalmente, dar um ponto final à relação.
(Com informações do UOL)