São Paulo – Um homem de 41 anos que fingia ser procurador federal e diplomata em aplicativos de relacionamento foi preso na tarde desta quinta-feira (26) no restaurante Pirajá, na Alameda Santos, nos Jardins. Ele está sendo acusado de estuprar e roubar mulheres de alto poder aquisitivo. As informações são da Veja São Paulo.
Segundo investigações da Polícia, Lauro Chamma Correia conhecia mulheres por meio dos aplicativos Happn e Tinder e marcava encontros em restaurantes badalados da cidade. No local, dopava as vítimas ao drogar suas bebidas, técnica conhecida como “Boa noite Cinderela”. Na sequência, ele as levava para a própria casa das mulheres, ou para seu flat no Jabaquara, onde abusava sexualmente delas e tinha acesso livre a seus cartões de crédito. Em um dos casos, Correia chegou a filmar um dos estupros com seu celular. O equipamento foi apreendido.
No vídeo abaixo, captado por câmeras de segurança, é possível ver Correia com uma das vítimas em um elevador de um apartamento na Aclimação. A moça está visivelmente drogada e cambaleia ao caminhar.
Das quatro mulheres que denunciaram Correia, duas prestaram depoimentos nesta sexta-feira (27) no 5º DP (Aclimação). Moradoras de bairros como Moema, Liberdade e Aclimação, as vítimas estão na faixa dos 40 anos e teriam sido enganadas pelo homem a partir de junho de 2017. São uma médica, uma contadora, uma psicóloga e uma advogada. Mas a principal investigadora do caso, a policial Luciana de Souza Santos, estima que Correia possa ter acumulado ao menos sessenta vítimas. “Ele marcava até dois encontros por dia desde o ano passado, ao menos”, afirma.
Nos aplicativos, Correia demonstrava ser um homem bem-sucedido. Dizia ser fã de jazz e recheava o perfil com fotos em diversos países, como em frente à Torre Eiffel, em Paris; em Nova York, Londres e em Dubai. Para convencer as moças de sua profissão, exibia artigos falsos na internet em que aparecia como procurador. Com o cartão de uma das mulheres, fez compras de equipamentos eletrônicos no valor de 14 000 reais. Depois, gastou em torno de 2 000 reais em produtos de um supermercado, além de usá-lo em corridas de Uber.
Ao se conhecerem nesta sexta no 5º DP (Consolação), duas das vítimas se abraçaram emocionadas. Uma delas, uma advogada de 36 anos, contou sobre os momentos de drama que viveu:
Conheci Lauro em novembro de 2017 por meio do aplicativo Happn. Depois de pesquisar sobre ele na internet, senti confiança e marcamos nosso primeiro encontro. Foi no restaurante Ibotirama, na região da Rua Augusta. Ele demonstrava ser um cara conquistador, sedutor, charmoso, apesar de não ser muito boa pinta. Nos encontramos pela segunda vez na porta da faculdade de direito da USP, no centro, pois ele dizia também ser professor lá. Chegou até a mandar uma foto de dentro de uma das salas. Fomos tomar um chope e de alguma forma muito esquisita não lembrava do que havia acontecido. No terceiro encontro ele chegou a conhecer minha família. Na semana seguinte, estava no trabalho quando de repente comecei a ter flashes do que havia acontecido nos nossos encontros. Lembrei de ter ido para um flat no Jabaquara e depois dele me virando à força, para que eu ficasse de quatro. Recordei que eu chorei muito porque ele não me deixava sair. Outros flashes vieram também de cenas em que eu estava nua. Foi um choque tão grande ter isso vindo à mente que eu passei muito mal. Contei à minha família e todo mundo chorou. Fiz exames para detectar HIV e doenças sexualmente transmissíveis, e deu tudo negativo. Rompi qualquer contato com o Lauro, mas ele insistia em me procurar. Até chamou uma mulher para tentar marcar uma reunião comigo se passando por cliente. Até então eu vivia com muito medo porque ele sabia onde eu morava. Então, jamais tive coragem de denunciar. Hoje, eu faço terapia uma vez por semana para me recuperar. Relembrar me causa angústia, ansiedade e até falta de ar. Eu me culpava muito por ter me colocado nessa situação, mas a psicóloga está trabalhando comigo essa questão porque eu não tive culpa, não havia como se prevenir, não foi o aplicativo. Eu poderia ter conhecido esse mau caráter em um bar ou uma balada. Já tive uma amiga estuprada com uso de “Boa noite Cinderela”, até por um amigo. Ao reconhecê-lo na cadeia olhei com ódio, mas agora com a certeza de que vai pagar pelo que fez.
Na delegacia, algemado, Correia confirmou a VEJA SÃO PAULO que mentiu sobre sua profissão para conquistar as mulheres, mas afirmou ser inocente dos crimes de roubo e estupro. “Elas que beberam e se drogaram”, disse. Questionado sobre a semelhança dos relatos das vítimas, desconversou. “Foi coincidência”.
Com Correia detido preventivamente, a Polícia espera reunir mais provas sobre o caso. “Estamos em busca de mais vítimas que possam registrar suas ocorrências para prolongar sua prisão e enviar um inquérito final mais robusto”, afirma o delegado Gilmar Contrera, titular do 5º DP.