RIO GRANDE DO SUL | No dia 18 de abril, o vigilante Everaldo da Silva Fonseca, de 62 anos, acompanhava, no Hospital Dom João Becker, em Gravataí (RS), a esposa, Maria Gonçalves Lopes, 55. Ela havia sido internada um dia antes para tratar de uma cirrose. No entanto, segundo o hospital, durante a madrugada o celular de uma técnica de enfermagem desapareceu. E o idoso, de acompanhante de paciente, foi acusado do furto.
Segundo o idoso, que é negro, ele foi arrancado do quarto da esposa e levado para um corredor por funcionários do hospital. Lá, foi agredido e humilhado. Depois, foi expulso do hospital. A mulher de Everaldo, que assistiu à parte da confusão, teve um infarto e morreu duas horas depois do ocorrido.
Inconformado, Everaldo diz que jamais imaginou que pudesse ser acusado daquela forma, principalmente porque sempre trabalhou e sustentou sua família. Naquela sexta-feira, ele havia trabalhado doze horas seguidas, e foi para o hospital no início da noite para ficar com a esposa.
Por volta das 4h da manhã, segundo o vigilante, várias técnicas de enfermagem e um segurança do hospital, contratado por uma empresa terceirizada, entraram no quarto e começaram a revistá-lo. Tudo aconteceu muito rápido, diz Everaldo.
“Eu estava do lado da cama da minha esposa. Ela viu tudo — eles não quiseram saber. Mexeram nas fraldas dela, nas cobertas, nas roupas, reviraram a cama dela”, conta. Durante a confusão, Everaldo diz que a esposa começou a gritar desesperadamente para que eles parassem com a revista, mas não foi ouvida. Ele diz que tentou explicar que era trabalhador e que não havia furtado nada, o que também não adiantou.
Segundo o vigilante, enquanto ainda estava no quarto, ele percebeu que a mulher começou a passar mal, e apenas uma das técnicas que estava no local acreditou em sua inocência e tentou defendê-lo, mas os empurrões e as agressões verbais teriam continuado.
Everaldo relata que, mesmo depois de perceberem que o celular não estava no quarto, os funcionários insistiram no crime. O segurança teria arrastado ele para fora do quarto, onde ele conta que foi pressionado a dizer onde havia escondido o aparelho.
“Me empurraram para um corredor, me bateram e disseram que eu tinha roubado o celular. Me chamaram de negro, falaram que negro não é um cidadão. A técnica de enfermagem me xingou de tudo”, desabafa o idoso.
Após a confusão no corredor, o segurança do hospital teria expulsado o vigilante do local. Everaldo, no entanto, permaneceu na porta à espera de notícias de sua esposa. Minutos depois, o celular foi encontrado em uma sala de reuniões do hospital, ao qual o idoso não teria como ter acesso. Por isso, segundo Everaldo, a técnica de enfermagem foi pessoalmente buscá-lo na porta de entrada para dizer que tudo não passou de um mal-entendido.
“Para me agradar, ainda quiseram me dar um lanche, porque tudo tinha sido um equívoco, e me pediram desculpas em nome do hospital. Mas eu fui insultado, apanhei perto da minha esposa e falaram palavrão — daí ela entrou em choque”, conta.
“O que me deixa mais indignado é que o hospital ainda quer se fazer de vítima, quer dizer que tudo isso foi normal. Eu pensei que isso era coisa de 50 ou 100 anos atrás, mas aconteceu comigo”, lamenta Everaldo.