SÃO PAULO (SP) – A Justiça de São Paulo determinou que a Igreja Universal devolva cerca de R$ 200 mil doados por uma fiel que afirma ter sido coagida a fazer a contribuição para obter um lugar no céu. A Universal ainda pode recorrer da decisão.
Uma professora de 53 anos disse à justiça que entrou na igreja em 1999 após muitos problemas pessoais. Ela contou que participou de todas as práticas religiosas rigorosamente e que fez todas as ofertas solicitadas por acreditar que, só assim, seria abençoada por Deus.
Entre 2017 e 2018, ela afirma que fez as maiores doações, repassando R$ 204.500 à igreja, referente às suas economias de 30 anos de trabalho. No processo, a mulher disse que os líderes religiosos vinculavam a recompensa divina à entrega do dinheiro.
A Igreja Universal disse em sua defesa que nunca coagiu a professora e que a mesma frequentou a igreja por 18 anos, tendo liberdade para escolher outra igreja que melhor lhe atendesse. “Ela sabia das regras de conduta e do ritual propagado”.
Afirmou, ainda, que o dízimo bíblico, “necessário para o sustento do trabalho religioso”, é uma prática que “remonta milênios” e que “não configura violação à lei ou aos costumes”.
“Não pode pretender a devolução do bem e de valores doados por mero arrependimento, uma vez que essas doações foram feitas espontaneamente”.
O juiz Carlos Bottcher afirmou na sentença que a professora foi, sim, vítima de coação, “considerando as pressões psicológicas empreendidas pelos membros da organização religiosa para realização das ofertas”.
Ele condenou a igreja a devolver os R$ 204,5 mil, valor que deverá ser acrescido de correção monetária e juros desde as datas em que as doações foram realizadas. A Universal, no entanto, ainda pode recorrer.