RECIFE – PE | Não bastasse o sofrimento causado pela Covid, a necessidade de ser intubado e o risco de morte, os pacientes internados agora enfrentam um novo drama: a falta de medicamentos para intubação. Sem a medicação, os profissionais são obrigados a lidar com o sofrimento físico dos doentes e começam a relatar o desespero vivido escondido pelas paredes dos hospitais.
O médico intensivista Arthur Milach, coordenador da UTI-Covid do Hospital de Referência Unidade Boa Viagem Covid-19 e do Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, em Pernambuco, botou a boca no trombone. “As medicações chegam, mas o período em que o paciente fica sem sedação é arriscado e alguns terminam acordando”.
A situação é de estresse máximo. As Secretarias de Saúde de Pernambuco e do Recife negaram desabastecimento. Mas o médico denuncia. “As equipes de enfermagem estão bastante treinadas e ficam próximas dos pacientes, monitorando para que não aconteça uma desintubação. Nesse momento, não é apenas o cansaço que conta, tem também o estresse. A gente precisa ficar a cada momento mais vigilante”, relatou Milach.
O Governo Federal afirma que corre atrás dos medicamentos, mas parece que o número de casos é maior do que a capacidade de suprir. “Enquanto essas medicações não estão sendo fornecidas, a gente tem que usar alternativas. Além da rotina desgastante de UTI, ainda é preciso lidar com essa falta de medicamentos que pode prejudicar o paciente”, relatou Marçal.
ACABA DE REPENTE
De acordo com o farmacêutico hospitalar José de Arimatéa Rocha Filho, membro do Conselho Federal de Farmácia (CFF), a situação é crítica. “Começou junto com o aumento dos casos de Covid e de internações em UTI, entre fevereiro e março. Você pode ter de manhã uma droga e ela acabar de repente. Na troca por outro medicamento, tem um tempo de espera. E o paciente intubado, se perder a sedação, pode ficar agitado e perder a intubação”, relatou.
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) tem feito o acompanhamento junto aos farmacêuticos e realiza ações junto ao Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Conseguimos alguns resultados como o aumento da importação, mas o desabastecimento continua por conta do número de casos”, disse.
José de Arimatéa, que também é diretor Administrativo do Hospital das Clínicas (HC-UFPE), contou que acabou nessa semana na unidade de saúde o Midazolam, que é uma droga de primeira escolha para sedação. “Conseguimos fazer a compra e estamos esperando a entrega. Os estoques são monitorados constantemente”, declarou.