MANAUS – AM | Era 10 de dezembro de 2019, o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado Josué Neto, abria mão do cargo de Governador em exercício para comandar a pauta de votações na Casa. Ele responderia pelo chefe do Executivo, porque os dois primeiros titulares na linha sucessória, o Governador Wilson Lima, estava em viagem à Espanha, e o vice, Carlos Almeida Filho, em Brasília para acompanhar a votação do projeto de mudanças na Lei de informática, estavam por isso impedidos.
O objetivo, entre outros era o mercado do gás no Amazonas, uma estranha obsessão de Josué, desde então. Nesse dia, em uma das pautas, havia a recuperação de autos de infração da Petrobras no valor de R$240 milhões, que o Presidente da Aleam tentou inviabilizar de todas as formas.
Antes do inicio da Ordem do Dia, parlamentares governistas acusavam o Presidente de estar agindo nos bastidores. Na ocasião, quem presidia os trabalhos da Casa era a deputada Alessandra Campelo (MDB), enquanto Josué conversava ‘as portas fechadas’ em uma das salas da Aleam.
De acordo com os deputados da base aliada, o Presidente não poderia estar ali porque estava como chefe do poder Executivo. Em resposta, receberam a informação de que ele havia declinado do posto, abrindo a linha sucessória para o Presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, Yedo Simões. Tudo muito estranho e curioso.
UMA NOVA JOGADA ESTRANHA
De maneira bastante incomum e estranha, a Assembleia Legislativa do Amazonas recebeu, fez tramitar em comissões, discutiu e aprovou um projeto que liberou geral o mercado de gás no estado. O projeto foi recebido na Casa na quinta-feira, dia 02 de maio deste ano, e ganhou tramitação em regime de urgência. Sob o pretexto de que seria por causa do coronavírus (Covid-19), o Projeto tramitou sem consulta pública ou debate do tema com a sociedade, o que também provocou enormes suspeitas.
O motivo é que, de 10 deputados e deputadas que apoiaram o pedido, apenas Josué Neto (PRTB), autor do projeto, Augusto Ferraz (DEM) e Sinésio Campos (PT) assinaram a urgência antes mesmo de o documento ter sido formalizado. Eles subscreveram a urgência na véspera da votação, 12 horas depois que o Projeto foi protocolado. Josué assinou eletronicamente o requerimento às 21h30, Ferraz, às 22h04 e, Sinésio, às 23h05. Porém, o mais absurdo de tudo isso, é que o autor do pedido de urgência, deputado Fausto Júnior (PRTB), só assinou o requerimento, no dia seguinte, às 8h19.
MILÍCIA DIGITAL EM AÇÃO
Nas redes sociais, os deputados e deputadas têm recebido mensagens em massa de “eleitores”, pedindo que derrubem o veto do Governo. “Sou seu eleitor, não podemos sofrer com o monopólio do gás. #LiberaoGásDeputado”, dizem as mensagens. Talvez, fosse mais inteligente, pelo menos, não serem os mesmos textos para passar um ar de verdade. Quem estaria por trás desses perfis, muitos deles falsos, tentando pressionar a votação?
DISCUSSÃO COM A SOCIEDADE
E as perguntas continuam: Por que esta vontade do Presidente da Assembleia de fazer tudo a toque de caixa e por que não realizar uma audiência pública para discussão e apresentação de sugestões, tendo a participação da sociedade civil organizada? Depois disso, o Projeto seria encaminhado para apreciação da Assembleia Legislativa e se decidiria o que é melhor para o povo. A verdade é que não se quer a quebra do monopólio. O que há é um forte lobby para favorecer grupos empresariais de olho no gás no Amazonas. Simples assim.