Manaus – Não é só a vaia de recepção aos médicos cubanos. Está nas brincadeiras, nas insinuações, nos apelidos, nas conversas banais de muitos brasileiros. Brasileiros que ainda têm a coragem de se gabar, no exterior, de que no seu país “não existe racismo”. Por favor.
Me surpreende que essas pessoas não tenham senso de ridículo. Ridículo, mesmo. Não, seu racismo e sua xenofobia não são sua opinião. São sua ignorância. Ignorância histórica, cultural. Só não reconhece a hipocrisia porque é ignorante.
Gente que gosta de viajar para outro país e ser bem tratado. Que acha um absurdo ser discriminado lá fora por ser brasileiro. Que esquece quantos brasileiros foram e vão trabalhar em países desenvolvidos em busca de uma vida melhor. E esquece também que, há cem anos, seus avós e bisavós atravessaram o oceano para o Brasil com a mesma esperança. O Chico Buarque dá uma lição e tanto sobre esse racismo brasileiro em negação durante
Nossa estagiária Nayandra Portela, sofreu sérios ataques após publicar uma matéria sobre a corrida presidencial de 20018, onde o Ex- Presidente Lula é apontado como vitorioso em primeiro turno.
As agressões são direcionadas diretamente a cidade de Manaus e aos Nordestinos como pode ser visto no print.
— Até então o discurso era de ódio, agora é de violência. Há um abandono da palavra como recurso político, virou acerto de contas na rua — observa o professor Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo.
Redes sociais reforçam visões mais radicais e aceleram acirramento
O clamor das redes eleva a disputa, que vai contaminar as próximas eleições, mas as diferenças que separam os dois lados podem não ser tão acentuadas como parecem. Pelo menos do ponto de vista ideológico. Ao pesquisar a literatura internacional sobre o fenômeno, o escritor e jornalista de ciência Carlos Orsi encontrou dados que ajudam a iluminar também o quadro nacional. No estudo norte-americano Affect, Not Ideology: A Social Identity Perspective on Polarization, publicado em 2013 no periódico Public Opinion Quarterly, os autores mostram que o que efetivamente polariza são as emoções, não as diferenças ideológicas. Com falta de clareza sobre projetos partidários, eleitores tendem a personalizar sentimentos de amor ou raiva. Orsi lembra que outros estudos acadêmicos indicam que, quando um grupo de pessoas com opiniões moderadas, mas convergentes, se reúne para conversar, tende a sair com visões mais radicais. Por isso, ambientes que reforçam nichos, como o Facebook, são canais que aceleram o acirramento.
— As pessoas vão se radicalizando quando limitam seu leque de fontes. São movidas por ódio, seja a Lula, seja a (José) Serra. Mas, se compararmos os programas políticos dos dois quando disputaram a Presidência (em 2002), o de Serra era até mais à esquerda do que o de Lula. As pessoas encaram o confronto simbólico como se fosse mais fundamental do que a discussão em si — observa Orsi.
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