Manaus – Após o massacre de presos no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim)que começou no domingo (1º), no Amazonas, familiares dos presos passaram por longas horas de espera em busca de informações nesta segunda-feira (2). No IML (Instituto Médico Legal), que fica na zona norte de Manaus, pelo menos uma centena de pessoas se amontoou próximo às grades do prédio à espera de informações que só começaram a ser liberados no final da tarde.
Desmaios e choros eram as reações quando um funcionário passou a ler em voz alta nomes de presos que poderiam estar entre os 56 corpos encaminhados à unidade após a rebelião no Compaj. Na lista do IML havia 75 nomes. De acordo a explicação que o funcionário deu às famílias, não havia certeza de quem estava entre os mortos e quem estava foragido.
As famílias presentes eram chamadas para descrever detalhes sobre a aparência física de presos para ajudar na identificação dos corpos. A chamada nominal, porém, era recebida pelos familiares como uma sentença de que os parentes estavam entre os mortos. Parte dos familiares demonstravam já ter informações enviadas por celular de dentro do presídio.
Sem nenhum profissional do governo do lado de fora do IML, uma família tentava consolar a outra na hora que os nomes eram lidos. “Ele deve ter gritado muito para não morrer”, gritou aos prantos uma mulher que não quis falar com a reportagem. Outra mulher consolava uma senhora idosa que parecia em estado de choque. “Tenha calma, a senhora deu tudo que podia a ele.”
A promotora de vendas Carla Calixto Pires, 44 anos, afirmou que antes da chamada feita pelo IML já tinha quase certeza da morte do irmão Leonildo Calixto Filho. Mostrou fotos que fez com ele na semana passada ao visitá-lo no presídio e a foto de um corpo decapitado com a mesma bermuda que Calixto usava no dia da visita.
“Eu não pude entrar com o celular. Mas eles tinham lá e eu pedi para tirarem uma foto e me mandar. Ele estava perto de progredir para o semiaberto, o processo dele ia ser avaliado, mas aí iniciou o recesso da Justiça e ficou para janeiro. Não deu tempo”, disse.
Carla contou que a família toda do irmão é Porto Velho (RO) e juntaram dinheiro para que ela pudesse visitá-lo nesse Natal. Há três anos ela não o via. Na visita semana passada, o irmão disse a ela que presos sem família morriam mais fácil e apenas jogavam os corpos. “Ele me disse que foi o melhor final de ano porque eu tinha vindo visitá-lo. Falei para ele tentar mudar de vida e ele me disse que eu estava certa, que pensava nisso”, afirmou Carla.
Ela disse ainda que o irmão era identificado com outro nome Jorge Carvalho Ramos, porque foi preso com documentos falsos. Disse ainda que a passagem dela de retorno a Porto Velho está marcada para a próxima quinta-feira. “Espero resolver a liberação do corpo do meu irmão antes disso e consegui enterrá-lo. Não tenho dinheiro para levar o corpo”, afirmou.
A autônoma Suelen Lima, 27, fez uma verdadeira maratona ontem em busca de informações sobre o irmão Railson Lima, 22. Disse que foi ao presídio, a hospitais da cidade e ao IML e, até as 17h30 desta segunda-feira, nove horas após o fim da rebelião, não sabia se o irmão estava vivo ou morto. Suelen contou que o irmão está preso há quatro anos, desde que tinha 18 anos, no regime fechado.
“É muito sofrimento. Ligamos e ninguém atende na secretaria, aqui não sabemos de nada. Pegamos chuva e sol. Em casa, minha mãe já desmaiou várias vezes. Tem pressão alta. Essa espera sem saber o que aconteceu com nosso irmão é horrível”, relatou.
Ela disse que o irmão estava na triagem do Compaj, no regime fechado, porque estava doente com tuberculose. Reclamou porque as informações chegavam mais fácil para a imprensa do que para as famílias. Suelen disse que várias pessoas pegaram chuva e sol em frente ao IML a espera de informações sobre os parentes. Ela disse que ficou sabendo pela família de outros presos, que passaram informações por celular que o irmão foi baleado.
“O que eu sei é que ele foi baleado. Mas não sei onde está. Não sei se está na mata, ferido. Se está aqui”, disse.
O autônomo Raimundo Nonato Gadelha Medeiros, 56, afirmou que até o último momento alimentou esperança que o filho Raijean Encarnação Medeiros, 33, pudesse estar entre os sobreviventes do massacre no Compaj.
“Tenho nove filhos e a gente tem que (…) Estou me aguentando… Estou assim entalado, ainda. Aquela história … a ficha ainda não caiu direito”, disse.
Raimundo Nonato contou que o filho ligou para a ex-nora há poucos dias pedindo que ela cuidasse bem dos filhos porque não sabia como ia sair da prisão. “Acho que já sabia o que podia ocorrer. Queria saber de onde surgiram aquelas armas? Porque aquelas armas entraram?”, questionou.
Com informações UOL.