São Paulo – O médico Ricardo Franco, do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da Baixa Mogiana, xingou ao telefone um homem que tentava ajudar uma mulher ferida em acidente de moto na segunda-feira, 2, no centro do município de Mogi Mirim (SP). A conversa foi gravada. “Ô imbecil, ô idiota”, disse o médico, irritado com seu interlocutor, que se identificou como Samuel.
“Um acidente aqui no centro de Mogi Mirim, a moça está caída no chão, de moto”, relata Samuel.
“O que ela está sentindo, você conseguiu ver?”, responde o médico.
O homem diz que não e comenta com pessoas que estavam a sua volta. “Quer saber o que ela está sentindo.”
Uma mulher ao fundo pede. “Fala pra ele que é uma emergência.”
“Gente, pelo amor de Deus, é uma emergência. A moça está caída de moto aqui, pelo amor de Deus, gente”, insiste o homem.
“Sr, eu estou fazendo as perguntas que são necessárias. O sr não quer responder?”, questiona o médico.
“Não, não é que eu não queira responder. Tá precisando da ambulância aqui. Ela está desacordada aqui, eu vou perguntar para ela o que ela está sentindo?”, retruca o homem que tentava ajudar.
O médico diz, então, que vai mandar a ambulância. “Então, é isso que eu queria ouvir, mas a tua ignorância é tanta que você não consegue responder.”
“E a demora de vocês é tanta também, pelo amor de Deus”, reclama o homem.
“Que demora? Não faz um minuto que você está falando comigo, ô imbecil”, diz o médico.
“Imbecil é você”, responde o homem.
“Ô idiota, ô idiota, filho de uma puta”, sobe o tom o médico. “Vai se fuder, ô desgraçado.”
O vereador Marcos Antonio Franco (PSB-SP) levou o caso para a Câmara de Mogi na terça-feira, 3.
O prefeito de Mogi Mirim, Carlos Nelson Bueno (PSDB-SP), determinou à Secretaria de Saúde imediata investigação e punição ao médico do Samu. A Central Reguladora do Samu fica em Mogi Guaçu, município vizinho.
Para o prefeito, a atitude do médico é inaceitável e precisa ser repreendida. “Para mim é caso de demissão sumária diante da gravidade dos fatos, mas temos que seguir o que determina a lei e a sindicância foi aberta”, afirmou o prefeito.
Segundo a Prefeitura, a sindicância será conduzida pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde 8 de Abril, responsável pela contratação dos funcionários do Samu, e tem 30 dias para ser concluída podendo ser prorrogada por mais 30 dias. O médico ficará afastado de suas funções como médico regulador até o final da sindicância.
“Esse não é o tipo de comportamento que pode ser aceito em nenhum lugar, muito menos durante um atendimento feito por telefone, no qual vidas estão em jogo”, disse o chefe do Executivo.
O prefeito ainda determinou o acompanhamento do caso pela secretária de Saúde, Rose Silva, e o reparo imediato das ambulâncias que atendem a cidade pelo Samu. Atualmente o município conta com três unidades, mas só a de alta complexidade está em funcionamento, as demais aguardam peças para reparos.
“Mesmo diante dos problemas financeiros que herdamos, a Saúde sempre terá prioridade e o atendimento à população não pode ser prejudicado. Vamos buscar parcerias e resolver esse problema o quanto antes”, concluiu Carlos Nelson Bueno.
A reportagem está tentando contato com o médico Ricardo Franco. O espaço está aberto para manifestação.
LEIA O DIÁLOGO
Homem: Um acidente aqui no centro de Mogi Mirim, a moça está caída no chão, de moto.
Médico: O que ela está sentindo, você conseguiu ver?
Homem: Não. Quer saber o que ela está sentindo.
Mulher ao fundo: Fala pra ele que é uma emergência.
Homem: Gente, pelo amor de Deus, é uma emergência. A moça está caída de moto aqui, pelo amor de Deus, gente.
Médico: Sr, eu estou fazendo as perguntas que são necessárias. O sr não quer responder?
Homem: Não, não é que eu não queira responder. Tá precisando da ambulância aqui. Ela está desacordada aqui, eu vou perguntar para ela o que ela está sentindo?
Médico: O que ela está sentindo? Ela está machucada?
Homem: Ela está desacordada, meu senhor.
Médico: Tá bom, estou enviando a ambulância. Então, é isso que eu queria ouvir, mas a tua ignorância é tanta que você não consegue responder.
Homem: E a demora de vocês é tanta também, pelo amor de Deus.
Médico: Que demora? Não faz um minuto que você está falando comigo, ô imbecil.
Homem: Imbecil é você.
Médico: Ô idiota, ô idiota, filho de uma puta.
Homem: Manda a ambulância aqui, tá precisando. O filho de uma puta é você.
Médico: Vai se fuder, ô desgraçado.
Homem: Está sendo gravado, viu?
Médico: O meu também está gravado. Vai tomar no seu cu, filho de uma puta.
[…]
Homem: Manezão, tá todo mundo te escutando aqui, xarope.
Com informações Estadão