Brasília – Executivos da empreiteira Odebrecht afirmaram, em processo de delação premiada, que a senadora Marta Suplicy (PMDB), candidata à prefeitura de São Paulo neste ano, “recebeu doação de R$ 500 mil via caixa dois da Odebrecht na campanha de 2010”. Na época, Marta se elegeu senadora pelo PT, partido que deixou no ano passado para se filiar ao PMDB. As informações constam de reportagem publicada na edição desta quarta-feira da “Folha de S. Paulo”.
Corrigido pela inflação do período, o valor seria hoje de R$ 757 mil.
A senadora nega a acusação e diz não ter recebido doações da Odebrecht na eleição de 2010. Não constam registros de contribuição da empreiteira à campanha dela na Justiça Eleitoral naquele ano.
A informação foi prestada há cerca de duas semanas aos procuradores da República em Curitiba, que conduzem o processo de delação. A negociação com os executivos ocorre paralelamente às conversas sobre a leniência com a Odebrecht, espécie de delação para pessoas jurídicas. A citação a Marta integra um dos volumes preliminares da negociação com os procuradores. Caso o acordo de delação seja fechado, essas informações poderão ou não entrar na versão final. Segundo depoimento prestado aos procuradores, a negociação sobre os R$ 500 mil foi feita com o empresário Márcio Toledo, hoje marido de Marta e namorado da senadora em 2010. Toledo atuou nos bastidores da coordenação daquela campanha, inclusive na articulação para buscar potenciais doadores.
É a primeira vez que Marta Suplicy aparece como suposta beneficiária de caixa dois na investigação da Lava Jato. Em junho do ano passado, o nome da senadora apareceu em laudo da Polícia Federal mostrando que sua campanha para o Senado recebeu R$ 100 mil em doações oficiais de duas empresas do lobista Julio Camargo, outro delator da Lava Jato. Essas empresas se tornaram alvo de investigação por receber dinheiro da empreiteira Camargo Corrêa sem ter prestado serviço.
Na mesma semana em que o diretor da Odebrecht mencionou Marta, Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo e preso há mais de um ano no Paraná, teve uma conversa de mais de sete horas com os investigadores.
Um dos pontos que têm trazido dificuldades para a delação da empreiteira ser selada é que, como no caso de Marta e em outros, os executivos adotaram a versão de que a maioria pagamentos foi caixa dois, doação não declarada, e não propina. Para fechar um acordo, os procuradores cobram dados sobre corrupção, incluindo repasse a campanhas eleitorais de recursos desviados dos cofres públicos.