Brasília – Cerca de 300 pessoas participaram no início da noite deste sábado (15), em Brasília, de missa que, entre outros motivos, relembrou um ano da morte do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos da repressão à luta armada durante a ditadura militar (1964-1985).
Comandante do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações) do 2º Exército (SP) entre 1970 e 1974, no auge do combate às organizações da esquerda armada, Ustra morreu em 15 de outubro do ano passado, aos 83 anos, em decorrência de uma pneumonia. A missa foi realizada na Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, na Asa Norte, região central da capital federal.
Apesar de a missa ser dedicada também à memória de outras pessoas, Ustra foi o personagem central da celebração e a única pessoa citada na homilia do pároco, o coronel capelão José Eudes da Cunha, chefe do Serviço de Assistência Religiosa do Exército.
Em sua fala, o padre chamou a atenção dos fiéis para injustiças cometidas pela história e para a necessidade da perseverança em busca da verdade –o que, em suas palavras, sempre prevalece ao final.
José Eudes encerrou a homilia afirmando que Ustra foi um “herói” que lutou pela justiça e pela paz, mas que acabou sendo “incompreendido”. Estavam na celebração, que foi acompanhada pela Folha, a viúva de Ustra, Maria Joseita Brilhante Ustra, outros familiares e amigos, que se sentaram nas primeiras fileiras da igreja. Após a celebração, ela ficou no local ainda por mais de meia hora recebendo cumprimentos de pessoas que assistiram à cerimônia religiosa.
A família do coronel convidou parentes e amigos por meio de um anúncio no jornal “Correio Braziliense”. A Folha telefonou para a casa de Joseita neste domingo (16). Um familiar disse que ela agradecia o contato, mas que não poderia falar com a reportagem pois estava com um pequeno problema de saúde.
ACUSAÇÕES
Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, só na gestão de Ustra o DOI de São Paulo foi o responsável pela morte ou desaparecimento de ao menos 45 presos políticos. “O período que concentrou maior número de crimes promovidos nas dependências do DOI-CODI do II Exército foi entre 1971 e 1974, com 55 vítimas, entre mortos e desaparecidos políticos.
Durante a maior parte desse período, o órgão foi comandado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que atuou no DOI de 29 de setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974. As arbitrariedades das ações realizadas pelo DOI-CODI/II Exército atingiam também os familiares de militantes, que não apenas ficavam sem informações sobre os parentes presos, como também sofriam medidas sem nenhum amparo legal”, diz o relatório.
O calhamaço de três volumes o cita 137 vezes e inclui o coronel na lista de “autores de graves violações de direitos humanos”, afirmando que ele “teve participação direta em casos de prisão detenção ilegal, tortura, execução, desaparecimento forçado e ocultação de cadáver.”
A Comissão Nacional da Verdade concluiu seu trabalho em 2014 após dois anos e sete meses de trabalho, com a tomada de 1.121 depoimentos, além de audiências públicas, diligências, perícias e pesquisa documental.
Até a sua morte, Ustra era alvo de ações de ex-presos políticos e do Ministério Público, mas havia conseguido se livrar da maioria delas com base na Lei da Anistia, de 1979, que livrou de julgamento os que praticaram crimes políticos no regime militar. Ustra sempre negou as violações dos direitos humanos e chegou a publicar um livro para se defender, “A Verdade Sufocada”, cujo subtitulo é “A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça”.
Em depoimento à própria Comissão da Verdade, em 2013, Brilhante Ustra afirmou em manifestações enfáticas que nunca agiu fora da lei. “Nunca cometi assassinatos, nunca ocultei cadáveres, sempre agi segundo a lei e a ordem. (…) Não vou me entregar. Lutei, lutei e lutei”, afirmou o coronel na ocasião, exaltado e batendo com os punhos na mesa. À Comissão, ele se silenciou ao ser indagado sobre métodos de tortura usados na ditadura e afirmou que só houve mortes fora do DOI-CODI, em situações de confronto. “No meu comando ninguém foi morto dentro do DOI. Todos foram mortos em combate.
A mentira me revolta. Eram uns anjinhos que estavam lá dentro que foram mortos? Não, senhor. Foram mortos de arma na mão, na rua.” Mesmo após a sua morte, Brilhante Ustra foi personagem em abril da votação na Câmara do impeachment de Dilma Rousseff, que integrou grupos da luta armada e foi presa e torturada durante a ditadura. Ao dar o seu voto favorável ao afastamento da petista, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) homenageou a memória do ex-chefe do DOI-COD.
Com informações Folha de S.Paulo.
Que arda no fogo eterno esse escroto. E esse padre vai fazer companhia a ele quando a hora chegar
Esse padre vai arder no inferno junto com seu heroi.