BRASÍLIA – Um enfermeiro que trabalhou dois anos no Instituto Bíblico de Brasília entregou um dossiê com fotos e vídeos revelando que o local sagrado mais parecia um motel transformado por um padre identificado como Brás Costa. Ele supostamente fazia chantagem e coagia o homem em troca do emprego pelas transas profanas.
O escândalo mexeu com a confiança dos fiéis, mesmo após o caso não configurar crime no Código Penal Brasileiro porque fere o Código de Direito Canônico da Igreja Católica.
O enfermeiro relatou que começou a ser “agradado” por Brás Costa, então conselheiro e professor de hebraico e latim da unidade durante o período. O Instituto Bíblico encerrou suas atividades no último dia 12 de junho e, desde então, o religioso exercia suas funções eclesiásticas em outra paróquia.
O profissional de saúde contou que as primeiras abordagens vinham acompanhadas de elogios ao seu corpo atlético, além de apalpadas nos braços, nas nádegas e até no pênis dele. “Além do padre Brás, quase todos os seminaristas do instituto sabiam e muitos participavam das sessões de sexo. Eu acabei cedendo às investidas”, disse o rapaz, que é bissexual.
De acordo com o enfermeiro, havia uma espécie de pressão para que ele cedesse aos jogos sexuais conduzidos pelo religioso. “Ficava muito claro que eu poderia perder o meu emprego caso não aceitasse. Acabei mantendo relações sexuais com esse padre durante dois anos. Isso acabou com a minha vida: tive depressão e até tentei suicídio”, relatou.
Ainda segundo o homem, as transas ocorriam dentro dos quartos, nos banheiros, corredores e até depois da celebração de missas, sempre dentro do prédio cristão. Várias mensagens “picantes” mostram a relação dos dois.
Questionado, o padre nega ter mantido relacionamento sexual com o enfermeiro dentro ou fora do Instituto. Segundo o pároco, o rapaz tentou chantageá-lo. “Ele prestou serviço no instituto e, há alguns meses, quis me extorquir com essas fotos. Como não cedi, ele procurou a imprensa”, defendeu-se.
Confrontado com o vídeo em que ele elogia o pênis do enfermeiro, o padre respondeu à coluna que “só disse que [o pênis dele] era bonito”.
Ao tomar conhecimento do escândalo, o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, enviou nota dizendo que sua “decisão é contrária à permanência do padre Brás no território da Arquidiocese de Brasília”.
Leia a nota na íntegra da Arquidiocese de Brasília:
“O Sr. Arcebispo Dom Paulo Cezar Costa tomou conhecimento acerca da situação do Instituto Bíblico de Brasília.
Diante das circunstâncias que conheceu, considerando tradições e peculiaridades próprias da Igreja Católica, instituiu a Visita Canônica ao referido Instituto no mês de Nov/2021, designando responsáveis para apurar eventuais irregularidades, de modo que pudesse decidir a respeito do futuro institucional da entidade, cujo resultado foi ‘encerrar as atividades’.
Quanto aos fatos apontados pelo Sr. F., importante dizer que a Arquidiocese de Brasília, na pessoa do Sr. Arcebispo o acolheu, ouvindo suas declarações e lhe prestando assistência, encaminhando as providências próprias que lhe cabe no âmbito religioso.
Entretanto, no que toca ao sentimento de assédio por parte do denunciante, não cabe a Igreja trazer definições. Pois aquele que se sentir lesado em sua honra tem o direito de buscar o Poder Judiciário para sanar o dano que supostamente lhe tenha sido causado por outrem. Recomenda-se que o denunciante busque solucionar esta situação perante a Justiça Civil do País, isso porque foge a jurisdição canônica da Igreja.
Quanto ao Pe. Brás Ivan Costa Santos, importante destacar que ele não faz parte do Clero de Brasília, dessa forma, a responsabilidade pela situação canônica e religiosa do padre compete ao Bispo da Diocese de Lugano, na Suíça, onde o mesmo foi ordenado padre e se encontra incardinado.
Dom Paulo Cezar já pediu providências ao Bispo de Lugano, na Suíça, informando sua decisão contrária à permanência do Pe. Brás Ivan no território da Arquidiocese de Brasília. Além disso, o Arcebispo de Brasília continuará empenhando todos os esforços, dentro de suas competências canônicas, para resolver a situação”.