SÃO PAULO | Um estudo realizado por uma rede de pesquisadores liderada pela Universidade de São Paulo (USP) apontou que o Amazonas está entre os 18 estados brasileiros, além do Distrito Federal, que agiram com mais intensidade e rapidez para reduzir a velocidade de transmissão do novo coronavírus ainda no início da pandemia. A pesquisa, que se baseia em metodologia da Universidade de Oxford, elaborou um Índice de Rigidez do Distanciamento Social (RDS) para avaliar a resposta dos governos estaduais por meio de normas e decretos com restrições à circulação de pessoas.
De acordo com a doutora Lorena Barberia, professora do Departamento de Ciência Política da USP e coordenadora científica do estudo, o índice leva em conta medidas de suspensão ou proibição de atividades em quatro áreas: aulas presenciais em escolas e universidades; comércio e serviços não essenciais; indústrias não essenciais; aglomerações e grandes eventos.
“Fizemos um monitoramento diário de decretos e portarias entre os dias 1º de janeiro e 31 de março para verificar quando houve suspensão desses serviços ou atividades nos estados. Então, somamos e normalizamos esses indicadores para entender a evolução deles ao longo do tempo e obter o índice de rigidez, que varia de 0, quando não há nenhuma medida adotada, até 100, que é a pontuação máxima”, explicou a pesquisadora.
Antecipação – Segundo o levantamento, o Amazonas passou a pontuar a partir do dia 16 de março, passados apenas três dias da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no estado.
Nessa data, o governador Wilson Lima assinou o Decreto nº 42.061, que declarou situação de emergência na saúde pública e suspendeu: eventos promovidos pelo Governo do Estado, incluindo o funcionamento de equipamentos culturais; aulas na capital, incluindo Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) e Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Amazonas (FUnATI) (também foi recomendada a suspensão na rede privada); visitação a presídios; participação dos servidores em eventos ou viagens fora do Amazonas; dentre outras determinações.
Já no dia 17 de março, o Índice de Rigidez do Distanciamento Social do estado subiu para 50, com a adoção de medidas complementares para diminuir a circulação de pessoas, e no dia 21 chegou ao nível 75, com as primeiras determinações de suspensão voltadas ao setor de comércio e serviços não essenciais.
“Isso significa que houve um aumento rápido do Índice de Rigidez em apenas sete dias, indo de 0 para 75. Se formos pensar, as primeiras restrições à circulação de pessoas em São Paulo, que era e continua sendo o epicentro da pandemia, foram no dia 13 de março, quando o estado já estava com 56 casos confirmados. Ou seja, o Amazonas se antecipou e reagiu mais cedo, quando o nível de infecção do novo coronavírus ainda era baixo, em comparação com São Paulo”, esclareceu Lorena Barberia.
Segundo ela, os dados serão atualizados semanalmente, e a pesquisa entrará em uma nova fase a partir de agora, com a inclusão de mais variáveis.
“Mesmo com o Estado decretando o fechamento de escolas e proibindo aglomerações, a população pode não ter mudado seu comportamento de circulação e não estar mantendo distanciamento social. Precisamos combinar esses indicadores com outras evidências para conseguir avaliar o efeito das medidas ao longo das próximas semanas”, disse.
Plano de Contingência – O Governo do Amazonas vem somando esforços e se preparando para combater o surto de Covid-19 desde janeiro, quando foi instituído o Comitê Interinstitucional de Gestão de Emergência em Saúde Pública para Resposta Rápida aos Vírus Respiratórios, com ênfase no novo coronavírus.
A partir de então, os órgãos de saúde estaduais deram início a uma série de ações preventivas, como reuniões, simulações, fiscalizações, conferências e orientações aos profissionais da rede, além de terem elaborado o Plano de Contingência Estadual para Infecção Humana pelo SARS-CoV-2.
Com isso, o Amazonas foi o primeiro estado a realizar simulado de caso suspeito em trânsito aéreo. A atividade aconteceu no dia 6 de março, no Aeroporto Internacional de Manaus, e contou com a participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).