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Polícia confunde guarda-chuva com fuzil e mata garçom

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Rio – Chovia na última segunda-feira (17/9), no início da noite, no Rio de Janeiro. Morador da favela Chapéu Mangueira, na zona sul, Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, 26 anos, desceu a ladeira para esperar a mulher e os filhos com um guarda-chuva preto, um celular, um “canguru” (aquela espécie de suporte para carregar crianças) e as chaves de casa, próximo ao bar do David. Eram 19h30.

Rodrigo Alexandre era casado há sete anos, tinha dois filhos, um de quatro anos e outro de 10 meses, e trabalhava como vigia em um bar em Ipanema, também zona sul do Rio.

“Estava chovendo e a esposa e seus dois filhos não estavam em casa, então ele desceu a ladeira do morro para aguarda-los”, disse um morador que não quis se identificar por medo de represália. “A polícia desceu correndo, achou que ele estava com colete e com fuzil, e atirou. A PM não só atirou, como matou o homem”, acrescentou. “Não estava tendo operação naquela hora. Não teve troca de tiro”, ressaltou.

Guarda-chuva que Rodrigo segurava nas mãos teria sido confundido com um fuzil FOTO: REPRODUÇÃO TWITTER

A PMERJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) dá outra versão. Procurada, a corporação informou que “os agentes foram alertados por populares que havia criminosos na localidade do bar do David. Chegando ao local, houve troca de tiros e um breve confronto”.

“Eu pedi uma explicação para a polícia e eles me trataram super mal. Vieram falar que quem baleou meu marido foi bandido, mas não foi não. Quem atirou foi a polícia”, disse Thayssa de Freitas, esposa de Alexandre. “Como que acontece isso? Agora quero uma explicação, porque a razão está sempre do lado da polícia. Quero justiça”, afirmou. “Meu filho de quatro anos já sabe o que é tiroteio. Que realidade é essa? A creche dele já foi alvejada várias vezes. Ele sabe o que é agachar, ficar escondido. Um menino de quatro anos já tem essa noção do que acontece dentro da comunidade”, completou Thayssa, nascida e criada na favela Chapéu Mangueira.

Por volta das 7h30 desta segunda-feira, moradores indignados com o ocorrido se mobilizaram e protestaram empunhando guarda-chuvas do mesmo modelo que Rodrigo segurava quando foi morto. Nas redes sociais, compartilharam as imagens com a legenda: “É só na favela que guarda-chuva é confundido com fuzil” e “Toda favela é um campo de extermínio do povo preto.”

O ativista social e midialivrista do coletivo Papo Reto Raull Santiago compartilhou a imagem nas redes sociais e conclamou outros moradores das mais diversas comunidades do Rio fazerem a mesma imagem em sinal de repúdio ao ocorrido. Santiago chegou a escrever ainda na noite desta segunda-feira: “primeiro atira, depois pergunta”.

Na página do coletivo, uma montagem ironiza o erro grosseiro que é confundir um fuzil com um guarda-chuva com a legenda: “Como pode um Policial que, na maioria das vezes esta de posse de um fuzil, confundir um guarda-chuva com uma arma de guerra?”.

A PM informa que, além de Rodrigo, outro rapaz foi baleado e levado ao Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. Ainda na nota, ressalta que “um deles [Rodrigo] não resistiu aos ferimentos. Ele tinha anotações criminais por roubo e tráfico de drogas”.

A página Movimentos – drogas, juventude, favela compartilhou a publicação com a legenda: “Mais um jovem negro morto pelo racismo e pela “guerra” imposta diariamente para os moradores da favela. Rodrigo deixou uma esposa e dois filhos”. REPRODUÇÃO DA MONTAGEM PUBLICADA NA PÁGINA DO COLETIVO PAPO RETO

A Polícia Civil do Rio foi procurada para comentar o andamento das investigações, mas não respondeu até o momento da publicação da reportagem.

Para PM, furadeira era arma

Em maio de 2010, em Andaraí, na zona norte do Rio, um policial do Bope (Batalhão de Operações Especiais), matou um morador depois que confundiu uma furadeira com uma arma. O cabo Leonardo Albarello atirou em Hélio Ribeiro quando ele estava no terraço da casa dele pregando uma lona com a furadeira, para proteger o pavimento da chuva.

Dois anos mais tarde, Albarello foi absolvido da acusação de homicídio pelo juiz Murilo Kieling, da 3ª Vara Criminal do Rio. Na época, o próprio Ministério Público do RJ tinha pedido a absolvição do cabo e o caso nem foi levado ao tribunal do júri. *Com informações EL PAÍS. 

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