São Paulo = A Polícia Civil vai indiciar os envolvidos no mutirão de catarata de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que deixou ao menos 18 pessoas cegas em janeiro, segundo o SPTV. A Delegacia do Idoso do município deve indiciar a equipe médica por lesão corporal e homicídio.
A promotoria também abriu inquérito para apurar as causas e consequências do caso. Pacientes, parentes, médicos e agentes públicos estão sendo ouvidos. A intenção é identificar os culpados e processá-los civil e criminalmente. Não está descartada uma ação coletiva de indenização por danos morais para reparar as famílias das vítimas.
O relatório da Secretaria de Saúde do município divulgado nesta terça-feira (29) apontou que a equipe médica que realizou o mutirão não esterilizou os instrumentos cirúrgicos. Médicos e enfermeiros do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista não chegaram nem a lavar mãos ou trocaram aventais cirúrgicos.
Os primeiros pacientes foram os mais afetados, já que os instrumentos estavam contaminados antes mesmo do início das cirurgias.
O oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Melo, da Universidade Federal Paulista, questiona a realização de cirurgias em larga escala, nos chamados mutirões. “Tem que se questionar a real necessidade de um mutirão de catarata numa cidade, num município desenvolvido encostado em São Paulo”, afirma.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) informa que também instaurou sindicância para investigação do caso, que está em andamento sob sigilo processual, previsto em lei. Todo documento referente ao assunto será anexado aos autos para ser apreciado.
Após a averiguação dos fatos, se forem constatados indícios de infração ética pelo CREMESP, será instaurado um processo ético-profissional. Os profissionais envolvidos serão notificados e posteriormente julgados.
O mutirão ocorreu no dia 30 de janeiro deste ano no Hospital de Clínicas Municipal. Dos 27 pacientes que fizeram a cirurgia, 22 tiveram endoftalmite, inflamação causada por uma bactéria, e ao menos 18 ficaram cegos.
Um dos 22 pacientes que apresentaram infecção morreu após a cirurgia. O aposentado Pelegrino Riatto, de 77 anos, teve uma parada cardíaca. Para a família, foi uma consequência da cirurgia nos olhos, já que por causa da infecção ele teve que ficar muito tempo sem tomar um remédio para evitar trombose.
Danilo e dona Irene Riatto, o filho e a mulher de Pelegrino, ainda buscam forças para tentar aceitar o que aconteceu.
“Ainda não dá para acreditar. Perdi meu pai e outras pessoas ficaram cegas pela imprudência de uma equipe”, desabafa Danilo. Dona Irene pede justiça: “Os responsáveis já deveriam estar na cadeia. Está na cara o que houve”, diz.
O advogado do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, empresa contratada em 2014 pela Prefeitura de São Bernardo, José Luís de Macedo, disse que não teve acesso ao relatório da Secretaria de Saúde e, sem saber do conteúdo, não poderia se manifestar.
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