São Paulo – Uma pessoa fria, calculista e sem arrependimento. Essa é a descrição que o delegado do Setor de Homicídios de Mogi das Cruzes, Rubens José Ângelo, faz de Michel Flor da Silva, de 28 anos, preso na noite de terça-feira (30), pelo assassinato de Rayane Paulino Alves, de 16 anos. “Ele é frio, tranquilo, pensa para falar, não toma medidas precipitadas”, disse o delegado. As informações são do G1.
No perfil em uma rede social, o segurança aparece com a família e segurando um berimbau.
Segundo a polícia, ele é praticante de capoeira e disse ter desacordado Rayane com um “mata-leão”.
Em outra foto, ele usa o uniforme de bombeiro civil. O delegado disse que ele tem curso de primeiros-socorros e percebeu a pulsação da adolescente depois do golpe e, por isso, a asfixiou com um cadarço.
Michel Silva, acusado de matar Rayane — Foto: Reprodução/Facebook
Rayane Paulino Alves desapareceu no dia 21 de outubro, depois de sair de uma rave em um sítio. Depois de oito dias de buscas, o corpo dela foi encontrado em uma área de mata, em Guararema, já em avançado estado de decomposição. A mãe reconheceu por causa da cor do esmalte e da tornozeleira.
Segundo a polícia, o segurança confessou que matou a jovem depois de ter oferecido uma carona para ela. Para polícia houve estupro, mas Michel Flor da Silva alega que relação sexual foi consensual e que depois adolescente “surtou”.
Ângelo, que é delegado da Delegacia de Homicídios, e o delegado seccional, Jair Barbosa Ortiz, deram uma entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (31), em Mogi. Eles detalharam todo o trabalho de investigação da Polícia Civil para solucionar o caso.
Ortiz explicou que a tecnologia foi grande aliada da polícia no esclarecimento do caso. “O mundo está monitorado. Nós deixamos rastros por onde passamos por conta das redes sociais e celulares. E há câmeras espalhadas por todo o canto. Também teve a boa vontade e experiência dos policiais. Nesse caso houve uma junção desses dois fatores.”
O delegado Rubens José Ângelo destacou que uma caneta que estava no local onde o corpo de Rayane foi encontrado ajudou a comprovar que Silva era o assassino da jovem.
“Após a retirada do corpo e saída da perícia, eu e meus investigadores continuamos a fazer uma varredura na área. Pegamos lanternas e continuamos olhando. Vimos uma caneta que foi apreendida. Ela era verde, com detalhes prateados e com o nome de uma construtora. Eu ainda disse para os investigadores ‘essa caneta é do autor do crime’. No momento da prisão, o Michel estava em outro local. Ele foi chamado pela esposa e prenderam ele naquele momento. Os investigadores pediram uma caneta e ele deu uma idêntica à encontrada por nós. Ele explicou que ganhou as canetas de uma pessoa para quem fazia segurança. Ele identificou a caneta encontrada no local do crime.”
Durante toda a investigação, os policiais foram trabalhando com diversos elementos para montar o quebra-cabeça do desaparecimento da jovem e descobrir a identidade do assassino.
O fato de Rayane sair da festa e ir parar na cidade de Guararema intrigava a polícia. “Ela saiu da festa para voltar para casa e resolveu voltar a pé. Mas, ela foi sentido Guararema e andou um bom trecho. Um motorista de aplicativo parou e conversou com ela. Ele disse que não poderia levá-la até Mogi porque ia para Guararema, mas poderia levá-la até lá. Ela aceitou e ele a deixou na rodoviária, orientando que ela pegasse o ônibus e voltasse para Mogi. Ela ficou vagando sozinha na rodoviária e o Michel se aproximou já para tentar algo com ela”, detalhou o delegado seccional.
Para o seccional, desde o início a intenção do segurança era manter relações sexuais com a garota. “Ele viu a moça bonita, despertou a atenção dele. Ela sentou, ele se aproxima. Ele tenta saber se ela precisa de ajuda, oferece a jaqueta, ela recusou. Ele oferece água e ela recusa. Ele vai conversando e no final oferece carona até Mogi. Ela aceita a carona e entra no carro dele. No interrogatório, ele diz que em dado momento no sentido Mogi, ela disse que queria curtir e aí eles foram para Jacareí. Mas é inverídico e não corrobora com as provas colhidas. A intenção dele ao sair da rodoviária com a Rayane era manter relações sexuais com ela. Consentidas ou não. Como não houve consentimento, as coisas tomaram o rumo que tomaram até ela ser morta.”
Ângelo afirma que ele nega o estupro, mas a polícia não acredita nessa possibilidade. “Segundo a versão dele, que talvez seja isolada, ele disse que Rayane se arrependeu e teria dito o seguinte: ‘olha o que você fez comigo, você me estuprou! Meu pai é polícia, ele vai te matar’. É uma versão dada pelo Michel, que é isolada. E, neste momento, Rayane teria dado um chute nele. E ele, seguidamente, aplicou um golpe mata-leão no pescoço de Rayane porque ele é lutador de artes marciais, capoeira, há mais de 12 anos, e ela desfaleceu”, explica Ângelo.
O delegado acredita que a jovem foi violentada em Jacareí, onde o celular foi encontrado, perto de um lago.
A polícia descobriu ainda na semana passada que o aparelho tinha feito uma chamada para o 190, provavelmente para um pedido de socorro.
Ainda de acordo com a polícia, Michel afirmou que, depois, levou Rayane para a área de mata em Guararema, onde o corpo foi encontrado. Ali, ele disse que asfixou a vítima usando um cadarço.
“Ele tem curso de primeiros socorros. Ele aferiu o pulso de Rayane, bem como a veia jugular do pescoço. Ela ainda estava viva. Ele vendo isso e temendo que fosse descoberto o estupro, ele pegou a bota de Rayane que estava no assoalho do banco de passageiro dianteiro, do lado de Rayane, pegou o cardarço, colocou em seu pescoço até matá-la.”
Segundo o delegado, depois ele voltou a trabalhar normalmente no terminal.
Imagens do circuito de monitoramento de Guararema ajudaram na investigação. A polícia já estava com todas as provas contra Michel desde domingo, mas o supeito não foi preso antes por causa da legislação eleitoral.
A Justiça decretou a prisão temporária do segurança, que vai responder por homicídio quadruplamente qualificado, bem como o crime de estupro. “Existem quatro qualificadores: motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima, asfixia e ocultar a vantagem de outro crime, que seria o estupro”, detalhou o delegado.
Caso Rayane
Na noite de sábado, 20 de outubro, Rayane Paulino foi a uma festa em um sítio de Mogi das Cruzes na companhia de mais duas amigas. O pai dela a deixou na casa de uma delas.
Para as amigas, Rayane teria dito que precisava ir embora mais cedo e que o pai viria buscar, mas isso não aconteceu.
Por volta das 5h de domingo dia 21, os pais perceberam que a filha ainda não tinha ligado e acharam estranho. Eles contam que tentaram contato com ela, mas não conseguiram.
Na segunda-feira (22), os pais espalharam vários cartazes pela cidade com fotos de Rayane e o telefone deles para contato. A família da jovem conta que ela não tinha namorado e que sempre teve o costume de avisar onde e com quem estava.
Na última semana, após a polícia localizar o celular que pertencia à jovem na altura do km 170 da Rodovia Presidente Dutra, em Jacareí, cães farejadores fizeram buscas em uma região de mata no entorno do local. Os animais chegaram a indicar que o corpo da jovem poderia estar em um lago.
Diante desta possibilidade, equipes do Corpo de Bombeiros e mergulhadores de Jacareí fizeram as buscas, mas informaram que não encontraram qualquer vestígio de que a jovem estaria por lá.
Houve buscas ainda no bairro Bela Vista, em Jacareí, com o apoio do helicóptero Águia, depois de uma denúncia. Mas o corpo, em avançado estado de decomposição, foi achado apenas no domingo (28) em Guararema.
A mãe fez o reconhecimento no dia seguinte, no Instituto Médico Legal (IML) de Mogi das Cruzes, com base na cor do esmalte e em uma tornozeleira.