São Paulo – O supercomputador Santos Dumont, utilizado para pesquisas científicas que precisam de grande poder computacional, foi desligado em Petrópolis (RJ) porque o Laboratório Nacional de Computação Científica não teve verba o suficiente para pagar a conta de luz de 500 mil reais ao mês.
De acordo com a CBN, o instituto aguarda o repasse de verbas federais para a reativação da máquina, que ajudava a realizar estudos complexos sobre o vírus zika, o Mal de Alzheimer e o pré-sal. Tudo está congelado por ora.
O Santos Dumont é até um milhão de vezes mais rápido do que um notebook doméstico. Em três dias, ele conseguiu encontrar cadeias de proteínas que podem ser usadas em tratamentos para o Mal de Alzheimer.
Augusto Gadelha, diretor do LNCC, disse à CBN que tomou a decisão no mês passado. “No mês de maio, vimos que não havia a possibilidade de manter o computador ligado e tivemos a decisão de desligá-lo, diante da imprevisibilidade de chegada dos recursos para a energia elétrica”, afirmou Gadelha.
Por conta do desligamento do supercomputador, seis pesquisas estão atrasadas e ainda há uma fila de mais 75 que aguardam para ser iniciadas.
A paralisação da máquina, que custou 60 milhões de reais e foi lançada em dezembro do ano passado, pode causar danos irreversíveis a ela. Segundo Wagner Leo, coordenador de tecnologia do laboratório, o Santos Dumont é refrigerado com água. “Ela é como se fosse um carro, com óleo e refrigerada a líquidos, em seu interior. Então todas essas peças podem sofrer danos se ficarem sem uso. Um equipamento eletrônico não pode ficar parado”, declarou à CBN.
Buscando minimizar a chance de danos permanentes, o supercomputador foi ligado por algumas horas nos últimos dias, mas sempre fora do horário de pico.
Para Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia do Rio de Janeiro e professor de economia criativa na ESPM, a atitude de desativar o Santos Dumont indica despreparo por parte da iniciativa pública.
“O que mostra a situação de desligamento? Que o processo de planejamento de ciência e tecnologia está em risco. Sim, há cortes. Mas mais do que isso, falta saber onde os cortes podem gerar menos perdas. Na iniciativa privada grande é assim. Otimização de recursos, orientação de cortes para retorno futuro. Esse pensamento não está estruturado como deveria no setor público˜, declarou Steibel, em entrevista a EXAME.com.
“É claro que não podemos ter um computador que custe absurdos aos cofres da universidade. Por outro lado, esse computador gera renda. E isso não está sendo pensando. Computadores como esse tem despesas, mas eles são geradores de renda. Projetos com iniciativas privadas, organismos internacionais, e outras formas de parcerias injetam dinheiro ali. Tanto que pesquisas na área de saúde podem ser feitas no computador. O importante é entender que o computador não é custo, é fonte de receita”, afirmou o diretor-executivo do ITS-Rio.
O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Telecomunicações informou que busca uma forma de oferecer mais verba ao laboratório, mas não tem previsão de quando o dinheiro efetivamente chegará a ele para que o supercomputador possa voltar ao seu pleno funcionamento. Sozinho, o Santos Dumont consumia 80% dos recursos do instituto e a energia usada por ele poderia abastecer um bairro com 3 mil famílias.
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