São Paulo – A infecção pelo vírus da zika desencadeia nas células do cérebro humano em formação uma resposta imune que as leva à autodestruição. A descoberta foi feita por cientistas da Universidade da Califórnia (UC) em San Diego (Estados Unidos) e publicada nesta sexta-feira, 6, na revista científica Cell.
De acordo com os autores do artigo, a morte das células-tronco cerebrais após a infecção é associada aos casos de microcefalia causados pelo vírus. Bloquear a resposta imune inata das células-tronco cerebrais pode ser uma alternativa para que sobrevivam à infecção, reduzindo a possibilidade de má-formação.
O QUE É A MICROCEFALIA?
É uma malformação congênita que faz com que o cérebro do bebê não tenha se desenvolvido da maneira correta. Após o nascimento, os bebês são submetidos a três exames de rotina, segundo o neonatologista do Hospital São Lucas da PUCRS Manoel Ribeiro. Um deles consiste em medir o perímetro encefálico da criança.
Desde 9 de março, o Ministério da Saúde o critério para considerar um bebê com microcefalia mudou, seguindo recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A medida do perímetro craniano em bebês passa de 32 cm para 31,9 cm em meninos e 31,5 cm em meninas. Desde dezembro de 2015, o parâmetro para diagnóstico da doença era de 32 cm.
HÁ CASOS DE MICROCEFALIA EM BEBÊS COM PERÍMETRO MAIOR DO QUE A MEDIDA RECOMENDADA PELA OMS?
Responsável pela identificação do vírus zika em dois embriões com microcefalia, a médica Adriana Melo defende a mudança na classificação da doença. Ela afirma haver casos de crianças que nascem com perímetro cefálico igual ou superior a 32 centímetros, mas com problemas importantes na estrutura do cérebro. Diante desse problema, afirma, há casos que passam despercebidos por autoridades de saúde.
O QUE OCASIONA A MICROCEFALIA?
A condição pode ser ocasionada por diversos fatores, como substâncias químicas que a mãe ingere durante a gestação ou quando é infectada por bactérias e vírus. Conforme Ribeiro, as causas mais comuns são a toxoplasmose e a rubéola.
HÁ SEQUELAS?
Como o cérebro não se desenvolve, há um risco muito grande de a malformação refletir em quadros de retardo mental ou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor da criança.
As lesões no cérebro podem gerar problemas motores, de visão, de audição, retardo mental e epilepsia.
HÁ TRATAMENTO?
As orientações são, além do acompanhamento médico, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, hidroterapia etc.
O BEBÊ COM MICROCEFALIA PODE MORRER?
Sim, dependendo da gravidade da lesão no cérebro. Se for muito grave, pode interferir no funcionamento do sistema nervoso central.
QUAL A EXPECTATIVA DE VIDA DE QUEM FOI DIAGNOSTICADOS COM MICROCEFALIA?
A microcefalia – doença até então pouco conhecida – tem diferentes níveis, assim como muitas origens para o problema. Alguns casos são tão leves que quase não causam complicações. Outros são tão severos que o tempo de vida varia de alguns meses até 10 anos, dependendo do acesso a cuidados médicos, entre outros fatores.
QUANDO A MICROCEFALIA PODE SER DIAGNOSTICADA?
Durante o pré-natal, entre a 14ª e a 16ª semana de gestação, pode-se ter uma ideia de que o bebê pode ter microcefalia. No entanto, a confirmação só é feita após o nascimento.
ESTÁ CONFIRMADO QUE O ZIKA VÍRUS É O CAUSADOR DO AUMENTO DE CASOS DE MICROCEFALIA NO PAÍS?
Sim. O Ministério da Saúde confirmou no dia 28 de novembro que existe relação entre o vírus zika e os casos de microcefalia na região Nordeste do país.
QUEM É O TRANSMISSOR DO ZIKA?
O mosquito Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a febre chikungunya.
COMO OCORRE A CONTAMINAÇÃO?
O mosquito pica uma pessoa com um dos vírus e é infectado. Ao picar outra pessoa, transmite o vírus, que não é passado de uma pessoa para a outra. Fique atento, o mosquito costuma a atacar no início da manhã e no final da tarde.
O RS JÁ TEVE CASOS DE MICROCEFALIA?
Em nota técnica publicada em 23 de novembro, o Centro Estadual de Vigilância em Saúde afirmou que não houve mudança no padrão de ocorrências de microcefalia no Estado. Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos dão conta que são registrados de sete a 13 casos da malformação por ano no RS. O neurologista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento Rogerio Pezzi Koeche salienta que por zika vírus não há nenhum registro, mas em decorrência de rubéola e citomegalovírus já houve registros.
QUE TIPO DE ACOMPANHAMENTO A MÃE DEVE TER?
Em caso de toxoplasmose, por exemplo, a gestante deve fazer uso de antibióticos a fim de diminuir a chance de evolução do quadro da malformação. Em outros casos, não há orientação de acompanhamento especial.
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