Rio – O mundo do samba já está em festa. Nesta segunda-feira Zeca Pagodinho completa 60 anos, com direito à comemoração privada, e mais festas ao longo do mês. Começa hoje com o ‘Samba Do Zeca’, no Jockey Club, no Jardim Botânico, com participações de Mumuzinho, Leandro Sapucahy, Nilze Carvalho e Pretinho da Serrinha.
E Zeca, está como? “Feliz. Fico feliz com o que recebo. Estou fazendo 60 com cara e gás de 35”, diverte-se.
“Não muda nada com a idade pra mim, sou o mesmo de sempre. Não sinto nada por estar envelhecendo, faço as mesmas coisas, faço show, fico com a família e os amigos, bebo, saio”, garante, e interrompe: “Tem uma coisa ruim, sim. A saudade que fica dos que já foram”.
Zeca não gosta muito de falar das homenagens, mas fica grato por elas. Também não gosta muito de falar de passado, mas faz um rápido balanço das seis décadas:
“Diziam que não chegaria aos 30 anos e estou aqui, e balançando”, provoca o sambista, aos risos. “Essa história de ‘deixar a vida me levar’ é legal. Só que eu tenho filhos, netos. Não dá pra só deixar a vida levar, né? Passei a cuidar mais disso”.
VIDA SIMPLES
Ele é tido como o rei do samba, o maior dos bambas, mas nada disso parece envaidecer o cantor. Querido no meio da música, no meio artístico e pelo seu público, Zeca delega o segredo de seu sucesso à simplicidade com que vive e com que lida com as pessoas.
“Trato todo mundo igual, em qualquer lugar. E sempre foi assim. Estou num hotel da Bahia e a diretora disse que vai me deixar no lugar dela. Falo com todo mundo”, diz o sambista, ao telefone com O DIA, direto de Salvador.
“Me incomoda esta história de sucesso quando não posso andar por aí, como gosto. Quando não posso ir a lugares como Pelourinho, o Cristo, sendo um turista comum. Gosto de ir a shopping, favela, festa”, diz.
CELEBRANDO A HISTÓRIA
Na lista dasw comemorações, também tem lançamento de música inédita em parceria com Moacyr Luz, e produção do filme sobre sua vida, que tem previsão de estreia para ano que vem. “Acabei de compor com Moacyr. Assim que eu chegar, vamos pro estúdio gravar”, revela. “É especial porque compus depois destes anos todos, e é a primeira com ele. Fizemos no dia do compositor. Ainda não demos nome”.
Zeca Pagodinho, batizado de Jessé Gomes da Silva Filho, nasceu no Irajá e foi criado em Del Castilho. Começou nos anos 70 a fazer sambas, quando o partido-alto tomou conta da cidade. E enquanto o reconhecimento não vinha, se virou como feirante, camelô, office-boy e fazendo os bicos que precisasse. De lá pra cá, muitos sucessos, muitas amizades no mundo do samba, como Monarco, Arlindo Cruz e sua ‘madrinha’ Beth Carvalho, entre tantos outros. Uma história batalhada, mas vitoriosa, que já inspirou texto de musical para o teatro, e agora vai virar filme, pelas mãos de Roberto Faustino, que assina o roteiro e produz.
“Desenvolvi a pesquisa junto com os jornalistas Jane Barboza e Leonardo Bruno, autores do livro ‘Deixa o Samba Me Levar’. Nessa fase, entrevistamos muitas pessoas importantes na vida do Zeca, familiares, amigos, parceiros, músicos, compositores”, conta Roberto.
E por que contar a vida do Zeca?
“Porque é um filmaço! Tem todos os ingredientes: drama, amores, aventuras, idealismo, pequenas e grandes loucuras e uma carreira de grande sucesso. E um tanto improvável, já que ninguém acreditava que teria qualquer futuro”, esclarece o roteirista. “Temos a percepção de dois filmes paralelos. Um onde a vida dele é contada. E outro onde o passado é comentado, motivo de várias emoções. Muitas vezes, o público vai ficar em dúvida se algumas histórias que o filme conta, de fato, aconteceram. Todas nos foram contadas. Muitas eu também duvido. Mas o mundo do Zeca Pagodinho não é um mundo normalzinho”, diverte-se, revelando que o elenco ainda não foi definido.
E Zeca, o que deseja para os próximos anos?
“Paz, amor pro mundo e para mim. Na segunda vou tomar minha cervejinha, ficar com os amigos, a família. A felicidade está nas pequenas coisas, não abro mão disso. Sou o mesmo Zeca. Nada mudou, só estou fazendo 60”.
Com informações O DIA.